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    Edgard Alves

    Olimpíada bate na porta, mas segue sufocada pelo futebol

    28/04/2015 02h00

    O futebol chamou a atenção da mídia e dos esportistas na última semana, especialmente pela repercussão das definições na Libertadores, na Liga dos Campeões e nos campeonatos estaduais.

    O noticiário olímpico acabou um pouco ofuscado no período, mas não por falta de informações relevantes. Pelo menos três assuntos tiveram alguma repercussão: poluição de águas, gastos da organização e o taekwondo abrindo os braços para receber Anderson Silva, antes mesmo de ele ter sido julgado pelo teste positivo de doping no UFC.

    A poluição da baía de Guanabara, por exemplo, que vem castigando sem tréguas o trabalho da organização dos Jogos Olímpicos do Rio, em 2016, mostrou que incomoda até fora do Brasil. Em entrevista à agência de notícias Associated Press, o chefe de competições da Federação Internacional de Vela, Alastair Fox, ameaçou com a possibilidade de tirar as disputas de vela da baía de Guanabara e levá-las para mar aberto.

    O dirigente quebrou a postura branda, aparentemente omissa, que a federação vinha adotando nos últimos tempos em relação ao problema. Justificou a mudança pela frustração com o pouco que foi feito até o momento para a limpeza do local e pela intenção de garantir uma prova justa aos concorrentes durante a Olimpíada.

    Os organizadores brasileiros e os governantes do Rio admitiram que a promessa feita durante a candidatura para os Jogos de atingir tratamento de 80% do esgoto lançado nas águas da baía não será atingida. Lamentável.

    Embora esperada, pois funciona como conta-gotas e deve ser repetida mais vezes até os Jogos, outra novidade foi o anúncio da atualização da estimativa de gastos dos projetos da Olimpíada. Cresceu R$ 500 milhões, elevando o total para R$ 38,2 bilhões.

    Já havia aumentado R$ 100 milhões em janeiro último. A escalada começou a partir do dossiê da candidatura, em 2009, com previsão de R$ 28,8 bilhões. Além dos ajustes, há obras que ainda não figuram no cálculo orçamentário, o que deve provocar impacto no final. Portanto, no fechamento da conta, os números deverão ser diferentes, bem mais robustos do que os atuais.

    A iniciativa privada participa na cobertura dos custos, mas a maior parte caberá aos cofres públicos. A Autoridade Pública Olímpica, consórcio criado para monitorar esses gastos, entre outras funções, segue comandada por um interino, e na dependência do Planalto para a indicação de um novo titular.

    Finalmente, um assunto que acabou despertando um pouco mais de curiosidade foi a decisão do lutador de UFC Anderson "Spider" Silva de retornar ao taekwondo, modalidade que havia parado de praticar aos 17 anos (hoje tem 40). Uma reviravolta. Agora ele vai entrar na disputa por um vaga na equipe olímpica brasileira para a Rio-2016.

    Evidentemente uma decisão polêmica, jogada de marketing, que chama as atenções para o taekwondo e para o time olímpico do Brasil. Não apenas pela idade avançada do lutador, um profissional com legião de fãs, mas, principalmente, por ele ter sido flagrado em teste antidoping com resultado positivo em janeiro último no UFC, o principal circuito de MMA do mundo.

    No caso de "Spider", o doping, o vilão dos esportes olímpicos, conta com um fator neutralizador. O UFC não segue o Código Mundial Antidoping da WADA, a agência mundial que controla o antidoping na Olimpíada. Independentemente de o atleta ainda aguardar julgamento, o fato é que o UFC está fora da jurisdição da Wada. Esta organização já manifestou que nada pode fazer, embora o tema seja controverso.

    Mesmo não sendo poucos nem irrelevantes, os fatos olímpicos continuam em banho-maria no país do futebol. Um panorama que logo vai mudar, com certeza, com o evento nas portas do Rio de Janeiro, uma situação econômica instável e contas para pagar. Não apenas os esportes olímpicos darão motivos para manchetes, aqui e no exterior, mas sim o país. Como diz a expressão popular, aí é que a porca vai torcer o rabo.

    edgard alves

    Jornalista esportivo desde 1971, escreve sobre temas olímpicos. Participou da cobertura de seis Olimpíadas e quatro Pan-Americanos. Escreve às terças.

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