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    Edgard Alves

    Laboratório antidoping caminha para resgatar sua credibilidade

    05/05/2015 02h00

    Contrastando com o quadro desolador de tropeços nos preparativos para os Jogos Olímpicos, finalmente o Brasil está bem perto de conseguir um feito: recuperar o credenciamento de seu laboratório de controle antidoping que deverá ser utilizado durante o evento.

    Espera-se que no próximo dia 13, o agora denominado LBCD (Laboratório Brasileiro de Controle de Dopagem) receba sua credencial de volta durante reunião da Wada (Agência Mundial Antidoping), que acontecerá em Montrèal, no Canadá.

    Convidados, e otimistas, dois brasileiros devem acompanhar o encontro: Marco Aurélio Klein, diretor-executivo da ABCD (Autoridade Brasileira de Controle de Dopagem), e o ministro do Esporte, George Hilton.

    Após as falhas que resultaram no descredenciamento em 2013 do Ladetec, o então laboratório nacional, o desânimo foi geral, deixando no ar uma dose de desconfiança. A falta de credibilidade era minúscula, mas presente.

    O país teve a credencial cassada após cometer equívocos em três oportunidades. Na verdade, em testes promovidos pela Wada, responsável pelo setor na Olimpíada. Um choque.

    Faltando três anos para os Jogos, seria quase impossível recuperar o credenciamento. Qualquer deslize derrubaria o processo.

    Controle antidoping é extremamente delicado, sério e preciso. Como num plano de segurança, nem em pensamento admite risco de possível falha, ou tudo vira lixo. Erro, por mais irrelevante que seja, coloca todo o sistema sob suspeita. Como na segurança, não adianta 99% de garantia, 1% pode significar a catástrofe.

    A ABCD trabalhou intensamente com o objetivo de recuperar a credencial do LBCD. Klein buscou o respaldo de incontáveis colaboradores brasileiros e estrangeiros, de países como Austrália, Espanha, Portugal, Reino Unido, China e, principalmente, EUA.

    O português Luis Horta, ex-corredor da São Silvestre e presidente da Autoridade Antidopagem de Portugal, está vivendo no Brasil há um ano, como um dos principais auxiliares na execução do novo projeto brasileiro.

    O ação do antidoping tem multifacetas, improváveis de imaginar. O trabalho de inteligência é uma delas. Cientistas, médicos, conhecedores de doping, Polícia Federal, Abin e outros tipos de profissionais especializados preparam o campo para a Olimpíada. Recentemente realizaram um encontro em Brasília, inclusive com agentes vindos do exterior e que atuam no ramo há muito tempo.

    O novo laboratório brasileiro fica no pólo de química no campus da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), na Ilha do Governador. É vinculado ao Ladetec, o setor de apoio ao desenvolvimento tecnológico. A reforma e ampliação das instalações e a aquisição de novos equipamentos representam gastos estimados em R$ 140 milhões, bancados pelo governo federal.

    O Comitê Olímpico Internacional estabelece que o país-sede de uma Olimpíada necessita de um laboratório antidopagem credenciado e testado. Assim, sem a necessidade de viagens do material coletado, ganha-se tempo na apuração dos resultados dos testes. E os possíveis fraudadores podem ser punidos ainda durante o evento.

    É diferente, por exemplo, da Copa do Mundo de futebol, que enviava os testes para análise no exterior, pois havia tempo entre os jogos de um mesmo time. Além disso, a diferença entre o número de testes da Copa (pouco mais de 1000, incluindo a pré-Copa) e da Olimpíada e Paraolimpíada (de seis a sete mil) é brutal. Sem contar o custo, muito mais oneroso se realizado fora do país.

    Credenciar um laboratório é difícil e leva pelo menos de dois a três anos. Recuperar uma credencial cassada é pior ainda, por causa da credibilidade arranhada.

    Quando o Brasil foi descredenciado, tanto o governo federal como o próprio laboratório abdicaram de recorrer à CAS (Corte Arbitral do Esporte). Havia o risco de derrota e da perda de tempo com o recurso. O calendário olímpico estava no limite e encurtando. A estratégia foi tentar acelerar o processo, tendo a Olimpíada como respaldo, e mostrar trabalho. Parece que funcionou.

    Nesse intervalo, não faltaram pressões. Durante uma reunião em Paris, o francês tricampeão olímpico de canoagem Tony Estanguet, membro do COI e da WADA, disse que temia pela confiabilidade e pedia que a entidade se engajasse fortemente sobre o laboratório do Rio.

    Com as rodas sobre os trilhos, as opiniões começam a mudar. Em recente visita ao Rio, Olivier Rabin, diretor científico da Wada, admitiu que existe um projeto em andamento e monitorado de perto para que o laboratório volte a receber a credencial.

    Um laboratório credenciado pela Wada é, concretamente, um autêntico legado. Bem diferente do conceito que a cartolagem esportiva e políticos apregoam constantemente sobre quaisquer obras olímpicas.

    edgard alves

    Jornalista esportivo desde 1971, escreve sobre temas olímpicos. Participou da cobertura de seis Olimpíadas e quatro Pan-Americanos. Escreve às terças.

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