• Colunistas

    Saturday, 04-May-2024 11:44:58 -03
    Edgard Alves

    CBF quer futebol na vitrine com Dunga no time olímpico

    12/05/2015 02h00

    O afastamento de Alexandre Gallo do comando técnico da seleção olímpica, trocado por Dunga, não significou algo surpreendente, deixando mais a sensação, mesmo para os raros torcedores que concedem um mínimo de crédito à CBF, de que o figurino estava desenhado, apesar das declarações contrárias da cartolagem da entidade.

    Um bom momento de Dunga à frente na equipe principal seria a senha para o oportunismo de torná-lo absoluto, o comandante supremo das duas principais vitrines do futebol nacional. O capitão do time campeão da Copa-94, sem dúvida, é uma atração especial do Brasil para a Olimpíada.

    A chance apareceu com a série invicta de oito vitórias da seleção, embora apenas em amistosos, cujo teor de cobrança é sempre mais brando. Uma mostra clara e evidente de que a entidade que dirige o futebol brasileiro não aprecia planejar sequer a médio prazo, ou não tem competência para tal, pois a Olimpíada do Rio está logo aí.

    Gallo acumulava 27 meses de trabalho na CBF, mais voltados para os times sub-20 e olímpico, desde janeiro de 2013. Mário Rogério Reis Micalle assume o comando do grupo que disputará o Mundial Sub-20, a partir do próximo dia 30, na Nova Zelândia.

    Gallo ganhou, perdeu e fazia experiências, como é o padrão na preparação de qualquer seleção. Chegou ao título de bicampeão do Torneio de Toulon (sub-21) em 2013 e 2014. Mas um vacilo, que resultou no quarto posto no Sul-Americano sub-20, no início deste ano, o deixou mais vulnerável. Antes da queda derradeira, anunciada na última sexta-feira, ele já tinha perdido o cargo de coordenador da base para Erasmo Damiani.

    José Maria Marin, ex-presidente da CBF, recentemente substituído por Marco Polo Del Nero, chegou a criticar o fracasso do time sub-20. Sob nova direção, porém, como um boteco que muda a posição das mesas e troca a cor da parede tentando fazer a diferença, a CBF também esboça um novo cenário.

    Gallo era o último remanescente da gestão Felipão, técnico da seleção na Copa-14 e que havia descartado a hipótese de acumular a função com a direção da equipe olímpica. Talvez temesse um repeteco do ocorrido com seu antecessor, Mano Menezes, que assumiu a dupla incumbência e acabou apeado das duas seleções com o tropeço na Olimpíada de Londres-12. Uma reprise de Sydney-2000, com Vanderlei Luxemburgo.

    Mano levou o time até a decisão da medalha de ouro, mas a derrota diante do México alavancou a sua degola. Ele tinha aceitado o comando do time olímpico pouco tempo antes dos Jogos, com a demissão de Ney Franco, outra coincidência com a atual situação.

    Dunga, com uma trajetória de retumbantes fracassos como técnico de seleções –um pífio bronze nos Jogos de Pequim-08 e uma decepcionante eliminação na Copa da África do Sul, em 2010–, tem agora a chance de redenção nos dois golpes estridentes que mancharam sua carreira como técnico.

    Desde Helsinque-52, quando participou pela primeira vez do torneio olímpico de futebol, o Brasil acumula três medalhas de prata e duas de bronze. O regulamento permite a presença de jogadores até 23 anos, com a exceção de três sem limite. É diferente do torneio das mulheres, no qual não há nenhuma restrição.

    Aliás, a seleção feminina também é candidata ao pódio. Já ganhou duas pratas no evento e foi mal na última Olimpíada, eliminada nas quartas-de-final.

    Treinada pelo técnico Vadão, com ela dificilmente algum cartola vai mexer. Historicamente, a CBF dispensa pouca atenção à modalidade. E tem ainda um alerta do ministro do Esporte, George Hilton, que disse ter a presidente Dilma Rousseff pedido para que ele tivesse cuidados com o desenvolvimento do futebol feminino.

    A medalha de ouro no futebol é o grande desafio do Brasil na Olimpíada. Além de ser o esporte preferido dos brasileiros, a disputa vai acontecer em casa, uma oportunidade de resgate do prestígio do futebol nacional depois do vexame na Copa. E vale para os dois gêneros.

    edgard alves

    Jornalista esportivo desde 1971, escreve sobre temas olímpicos. Participou da cobertura de seis Olimpíadas e quatro Pan-Americanos. Escreve às terças.

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024