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    Edgard Alves

    Uma bandeira branca, atração no Pan

    07/07/2015 02h00

    Uma bandeira branca, erguida pelos dois mais destacados protagonistas do evento, Estados Unidos e Cuba, é a grande novidade dos Jogos Pan-Americanos de Toronto, no Canadá, que começam nesta semana. A abertura oficial acontece na sexta-feira (10), mas o polo aquático inicia suas disputas com antecipação, nesta terça.

    Os dois países estavam com suas relações rompidas havia pouco mais de 50 anos e recentemente retomaram as negociações para uma reconciliação. Na semana passada, ambos anunciaram que, no próximo dia 20, reabrirão suas embaixadas em Washington e Havana, fechadas desde 1961.

    O fato deve ser comemorado pelos integrantes das duas delegações, que praticamente estiveram na vanguarda do quadro de medalhas do Pan na maior parte deste meio século, com os norte-americanos sempre na ponta e os cubanos logo a seguir.

    Os EUA só caíram para o segundo posto em Havana-91, quando os cubanos, em casa, lideraram. No último Pan, em Guadalajara-2011, os EUA ganharam 236 medalhas, 92 delas de ouro, enquanto Cuba levou 136, 58 de ouro.

    Na oportunidade, o Brasil deixou claro que reúne potencial para entrar nesse patamar de disputa. Até ganhou mais medalhas (141) do que Cuba, mas ficou em terceiro pelo critério convencional de classificação pelo número de conquistas de ouro (48 contra 58).

    Os Jogos Pan-Americanos já tiveram maior importância no mundo dos esportes. Criados em 1951, com a edição inaugural em Buenos Aires, serviam como uma espécie de termômetro para que os países das Américas avaliassem suas chances com vistas à Olimpíada, no ano seguinte.

    Com o passar dos tempos e o crescimento galopante da grade de eventos internacionais de esportes, o Pan perdeu um pouco do seu brilho. Alguns países optam por enviar equipes de segunda linha, especialmente em esportes com outras prioridades na temporada.

    Observar o comportamento dos atletas dos EUA e de Cuba diante da nova realidade é o diferencial neste Pan.

    As polêmicas fugas de atletas cubanos para o exterior, aproveitando a oportunidade e facilidade oferecidas em grandes eventos esportivos, continuarão ocorrendo?

    Em 2013, o governo cubano anunciou uma reforma das suas leis de migração, permitindo viagens ao exterior, mas com a possibilidade de veto a alguns segmentos, entre os quais o dos esportistas. É como ganhar um presente mas não recebê-lo. Assim, no esporte a barreira continuou.

    Cubanos abandonaram delegações mundo afora e pediram abrigo no país que promovia a competição. No Pan do Rio-2007, fugas viraram uma autêntica novela.

    O mais dramático golpe sofrido por Cuba em Pans, vale ressaltar, não teve fuga como enredo, mas o resultado positivo num teste antidoping do seu campeão Javier Sotomayor, recordista do salto em altura. Aconteceu em Winnipeg-1999, também no Canadá, cidade que abrigava os Jogos pela segunda vez, a primeira ocorrera em 1967.

    Sotomayor foi um dos mais destacados atletas da história do esporte cubano, integrando uma galeria de ídolos do porte do boxeador peso-pesado Teófilo Stevenson (morto em 2012) e do corredor Alberto Juantorena, vencedor dos 400 e 800 m na Olimpíada de Montrèal-1976.

    A magia cubana, país do Caribe com cerca de 12 milhões de habitantes, de revelar permanentemente campeões em esporte diversos foi colocada em xeque com o doping de Sotomayor. Mas parou por aí.

    Aos poucos, no entanto, o país passou a enfrentar um nova realidade e a pagar um preço alto pelas dificuldades econômicas –após o fim da União Soviética, que dava suporte à ilha–, agravadas pelo bloqueio imposto pelos EUA, apoiado por seus aliados. O esporte não ficou imune à crise.

    O governo demorou, mas recentemente acabou cedendo para que os atletas tivessem fontes de renda, deixando de lado o amadorismo vigente. Talvez ainda seja cedo para uma possível evolução de resultados já neste Pan.

    Por que sobre os Estados Unidos quase nada foi falado até agora? Simplesmente porque sempre despontam entre os favoritos, mesmo nos esportes nos quais são representados por equipes "B". Costumam poupar suas principais estrelas olímpicas no Pan. São espetaculares em matéria de esportes em geral.

    É certo que os norte-americanos vão dominar em Toronto. A dúvida fica por conta dos cubanos. Estão se recuperando ou a queda continua?

    edgard alves

    Jornalista esportivo desde 1971, escreve sobre temas olímpicos. Participou da cobertura de seis Olimpíadas e quatro Pan-Americanos. Escreve às terças.

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