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    Edgard Alves

    COI aplica nova cartilha na escolha da sede de 2022

    28/07/2015 02h00

    Pequim, capital da China, o país mais populoso do planeta, todo mundo conhece ao menos de ouvir falar. Almaty, cidade do Cazaquistão, não chega a tanto. Ambas ficam na Ásia, a chinesa na parte oriental e a cazaque, na central. Nesta semana, elas travam um duelo em Kuala Lumpur, capital da Malásia, também na Ásia, mas no setor meridional.

    Duelo? Mais ou menos. Na realidade, lá acontece, na sexta-feira (31), a assembleia do Comitê Olímpico Internacional (COI) que vai eleger a sede da Olimpíada de Inverno de 2022. As duas cidades são as únicas concorrentes.

    A escolha será a primeira do COI sob as 40 recomendações da Agenda 2020, uma espécie de cartilha para contenção do avassalador gigantismo que tomou conta dos Jogos. O objetivo principal é reduzir custos na organização dos eventos e incentivar práticas sustentáveis.

    O custo de uma Olimpíada –de verão ou de inverno– atingiu patamar tão elevado que estava provocando evasão de interessados em receber a competição.

    Outras praças desistiram da corrida para 2022, após terem manifestado intenção de abrigar os Jogos. Os políticos e dirigentes esportivos recuaram por não contar com respaldo das populações locais. Refugaram Lviv, na Ucrânia, Estocolmo, na Suécia, Saint Moritz e Davos (candidatura conjunta), na Suíça, Munique, na Alemanha, e Oslo, na Noruega.

    As novas recomendações, que estavam em estudos havia algum tempo, só foram adotadas pelo COI depois daquelas desistências. Os suecos chegaram a lamentar, manifestando que não teriam retirado a candidatura de Estocolmo diante das novas regras. A decisão fora motivada por insegurança financeira.

    Os Jogos de PyeongChang-2018, na Coreia do Sul, e Rio-2016, respectivamente de inverno e de verão, já com projetos bem adiantados, pouco podem se beneficiar com as novas medidas, aprovadas em dezembro do ano passado.

    Situação bem diferente da de Tóquio-2020, que tem projetos ainda em discussão e deve amenizar suas despesas buscando carona nas recomendações.

    Dessa forma, Sochi-2014, na Rússia, que anunciou o absurdo gasto de US$ 51 bilhões com a última Olimpíada de Inverno, e o Rio de Janeiro, por enquanto com estimativa orçamentária de R$ 38,2 bilhões (incluídos projetos esportivos e de legado), fecham a era dos Jogos dispendiosos.

    A política de gastos mais enxutos abre as portas para que as candidaturas olímpicas possam utilizar locais já existentes, contornando o eterno dilema dos elefantes brancos, as construções de alto custo que acabam no abandono ou pouco utilizadas depois do evento.

    Com esse espírito, passa a ser aceita a hipótese de uma mesma Olimpíada acontecer em mais de uma cidade ou país. Como ocorreu na Copa-2002 de futebol, dividida por Coreia e Japão.

    O conceito agora é adaptar os Jogos aos planos da cidade, em vez de a cidade à competição. Faz sentido, sem dúvida. Por isso a escolha da sede de 2022 é um desafio para o movimento olímpico internacional.

    As concorrentes receberam as visitas de inspetores do COI e ambas foram elogiadas. Os cartolas da entidade levantaram dúvidas sobre a garantia das previsões orçamentárias –US$ 1,55 bilhão de Pequim e US$ 1,7 bilhão de Almaty–, valores muito aquém dos gastos da Rússia em Sochi.

    A proposta chinesa, segundo os inspetores, aproveita o legado e a experiência da Olimpíada-2008. Eles apontaram que os 200 km que separam Pequim da subsede de Zhangjiakou não representam problema porque um trem de alta velocidade liga as duas regiões.

    Mas há pontos negativos, como a poluição do ar e a dependência de neve artificial, experiência vivenciada em Sochi, onde os organizadores estocaram neve do inverno anterior e também produziram o produto. Além disso, a China continua sob as costumeiras críticas por causa de denúncias de violações aos direitos humanos.

    Almaty teria causado boa impressão aos visitantes pelas suas montanhas, pelos locais de competição e pela paixão dos seus habitantes por esportes de inverno. A comissão do COI ressaltou no relatório de inspeção o baixo impacto sobre o meio ambiente da proposta cazaque e que 10 sedes estão prontas ou em construção.

    Enquanto em Kuala Lumpur as atenções se voltam para os rumos dos Jogos de Inverno, a Rio-2016 planeja divulgar os números atualizados de gastos do evento no Brasil. O ônus vai aumentar, talvez pouco. Mesmo assim importa, e muito. É a mão no bolso do contribuinte, que é quem vai pagar a conta de uma Olimpíada moldada por conceitos ultrapassados e estupidamente caros.

    APENAS DISCRETA

    A campanha realizada pelo Brasil no Pan de Toronto não chegou a ser um fiasco. Também não merece aplausos para um país que será sede olímpica dentro de um ano e tem investido altas somas na área de esportes.

    O desempenho deixou a desejar, mesmo com algumas equipes B integrando a delegação. Rivais também adotaram política semelhante, priorizando outros eventos com seus times principais. Pelo menos resta a possibilidade de que o Brasil tenha usado a competição no Canadá para testar e preparar atletas com vistas à Olimpíada.

    Repetiu o terceiro lugar e sua marca de Guadalajara, em 2011, com 141 medalhas, embora com menor número de ouros (ganhou 41, e pode chegar a 42 por doping de atleta de outra delegação, que aguarda julgamento de recurso). Há quatro anos esteve no lugar mais alto do pódio em 48 oportunidades.

    Pelos dois principais critérios de classificação (total de ouro e total de medalhas) superou Cuba, sempre uma pedra do sapato. Em contrapartida, foi batido com folga pelo Canadá, que saltou do quinto para o segundo posto.

    edgard alves

    Jornalista esportivo desde 1971, escreve sobre temas olímpicos. Participou da cobertura de seis Olimpíadas e quatro Pan-Americanos. Escreve às terças.

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