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    Edgard Alves

    Olimpíada, a reta final

    04/08/2015 02h00

    Esta é uma semana especial. Falta apenas um ano para a solenidade de abertura da Olimpíada do Rio, a grande festa do esporte mundial, em 5 de agosto de 2016. Por isso tem comemoração. Até o presidente do Comitê Olímpico Internacional, o alemão Thomas Bach, vai estar no Rio para brindar e conferir o estágio dos preparativos.

    Não é para menos. Muito mais do que um desafio, organizar uma Olimpíada é uma façanha, que consome trabalho, planejamento, fortunas e exige muito sacrifício para pagar a conta. Vale a pena? Qualquer resposta, a favor ou contra, dá motivo para debate, ainda mais num momento de retração total da economia, quando sequer se consegue dimensionar a extensão da crise, embora, com certeza, seja ela perversa.

    O fato é que o Brasil topou a peleja olímpica, via União e governos do Rio, estadual e municipal, com incentivo e respaldo da cartolagem esportiva, em especial a do Comitê Olímpico do Brasil.

    Quando o país reivindicou e conquistou o direito de organizar os Jogos, no final de 2009, comemorações ocorreram em vários cantos do Brasil, que já era o detentor dos direitos da Copa do Mundo de 2014, outro grande evento internacional.

    A Copa valeu a pena? Foi um festa inesquecível, sem dúvida, tanto para os nativos como para os visitantes, mas deixou elefantes brancos pelo caminho e enormes dívidas para serem honradas.

    Como na Copa, a Olimpíada também tem muita coisa para ser feita faltando um ano. Dirigentes do COI, inclusive o presidente Bach, já alertaram que não há tempo a perder. Um deles chegou a dizer que as instalações devem ficar prontas na noite da véspera da abertura.

    Exagero ou não, o imenso canteiro de obras está em plena atividade. O mistério das finalizações fica por conta das empreiteiras –várias de renome, algumas citadas na Lava Jato–, que executam os trabalhos e traçam os prazos de construção.

    A conta, de R$ 38,2 bilhões, conforme a última estimativa orçamentária, deve sofrer reajustes. A Autoridade Pública Olímpica, com a função de fiscalizar e harmonizar as ações das três áreas de governo e do comitê organizador, é responsável pela divulgação dos números.

    Além de sempre atrasar, cada anúncio da APO é uma má notícia, um aumento dos custos. Sensível, o órgão não consegue reter um presidente por largo tempo, mesmo sendo o ocupante do posto uma indicação da presidente da República.

    As obras, no entanto, são parte dos problemas que os Jogos Olímpicos englobam. O TCU (Tribunal de Conta das União), na semana passada, divulgou relatório no qual critica o acúmulo de cargos por Carlos Arthur Nuzman, presidente do Comitê Olímpico do Brasil e do Comitê Rio-2016.

    Aponta "conflito de interesses", com riscos de essa situação gerar prejuízos aos cofres públicos. Para Nuzman é um equívoco, pois as duas entidades são geridas de forma profissional, não personalista, nas quais ele não decide sozinho. A controvérsia corre o risco de esquentar nessa reta olímpica final.

    Pela sua natureza, os preparativos de organização dos Jogos Olímpicos envolvem entraves de toda ordem. Alguns pegam os organizadores de surpresa, como a doença que atemoriza o setor hípico no Rio; outros resultam de desleixo, caso da falta de solução para reduzir a poluição na Baía de Guanabara. São situações graves, que demandam empenho dos envolvidos para que toda a organização não acabe engolida por dificuldades do dia a dia ou de competência.

    A poluição da Baía de Guanabara é um tema batido, que os governos do Rio ignoraram por muitos anos e agora não têm como resolver a tempo de entregar águas limpas para as disputas de algumas modalidades dos Jogos. Apenas correm atrás do prejuízo, enquanto a imagem da cidade sofre desgaste.

    Alertada por denúncias de velejadores estrangeiros, e até de alguns brasileiros, a Associated Press, agência internacional de notícias, decidiu tirar a história da poluição a limpo. Providenciou análises de águas de vários pontos da cidade, e o resultado foi assustador. Os atletas que vão competir nos Jogos irão nadar e navegar em águas tão contaminadas por fezes humanas que correm o risco de ficarem doentes. O escândalo teve repercussão internacional e gerou desmentidos. Esse tema virá à tona muitas vezes até os Jogos.

    Nesse contexto conturbado, a informação de que um cavalo foi diagnosticado com mormo, doença incurável, que torna obrigatório o sacrifício do animal contaminado, colocou em alerta a região de Deodoro, no subúrbio do Rio, local das provas hípicas da Olimpíada. O animal doente foi diagnosticado em abril, no Espírito Santo, mas esteve em Deodoro no ano passado.

    Só recentemente a notícia foi revelada e ganhou espaço na mídia. É grave, uma tremenda dor de cabeça para a organização da Olimpíada. Aparentemente, a situação está sob controle, e o Ministério da Agricultura deve anunciar um diagnóstico definitivo da situação em outubro. O evento-teste do hipismo para os Jogos está mantido para esta semana, de quinta a domingo, em Deodoro.

    Apesar das polêmicas, o presidente Nuzman não reduz seu otimismo. Em texto que acaba de ser publicado, ressalta que as grandes competições costumam ser vencidas por quem tem mais vontade, gana e determinação na reta final. Será que isso basta? Pagar a conta, onerando o menos possível os cofres públicos, é o outro lado da moeda, o mais relevante, ou não?

    edgard alves

    Jornalista esportivo desde 1971, escreve sobre temas olímpicos. Participou da cobertura de seis Olimpíadas e quatro Pan-Americanos. Escreve às terças.

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