• Colunistas

    Sunday, 19-May-2024 13:41:03 -03
    Edgard Alves

    Dunga versão 2016-2018

    18/08/2015 02h00

    O futebol brasileiro está a todo vapor com a empolgação provocada pelo campeonato nacional. Apesar disso, a trombada (7 a 1) da seleção em casa na Copa do Mundo, ano passado, e o recente escândalo da Fifa, que resultou na prisão de dirigentes daquela entidade, entre eles o ex-presidente da CBF José Maria Marin, são manchas que não se apagam do dia para a noite. Embaçam o futebol, a paixão esportiva nacional.

    O atual presidente da CBF, Marco Polo Del Nero, tem evitado viagens ao exterior, praticamente abdicando da representação direta e ao vivo do futebol brasileiro nas relações internacionais e nos bastidores. Será que o Brasil corre o risco de ter mais cartolas no xilindró?

    Dúvida cruel, em especial pelo fato de o país estar às vésperas de promover outro grande evento, a Olimpíada. De todo modo, o susto provocado pela esdrúxula situação da Fifa serviu de alerta para a cartolagem, de todos os esportes, principalmente a do futebol.

    O vexame no Mundial é outra história. O resgate do brilho da seleção pode vir com uma campanha de sucesso na próxima Copa, em 2018, na Rússia. Antes, porém, o futebol brasileiro tem de superar dois obstáculos difíceis: as tentativas de conquista do inédito título olímpico e da vaga na Copa.

    Toda essa responsabilidade ficou concentrada no técnico Dunga, com seu currículo de ex-jogador revelando competência, mas com o cartel de treinador mostrando um profissional sem uma grande marca para consagrá-lo.

    Ao contrário, a seleção sob seu comando teve de se contentar com uma medalha de bronze na Olimpíada de Pequim, em 2008, e, dois anos depois, fracassou na Copa da África do Sul.

    Reconduzido ao cargo, Dunga parecia diferente, disposto a dividir poderes e a se concentrar no time principal. Puro engano, só aparência. Assumiu também a seleção olímpica, após o técnico Alexandre Gallo ter sido demitido pela CBF, em maio último. Ambição? Talvez a motivação seja menos densa, uma mera busca pelo foco do futebol.

    A CBF, por sua vez, acredita nas chances de o Brasil chegar à medalha de ouro, hipótese que levantaria o astral da seleção. Além de jogar com o apoio da torcida, o torneio olímpico não é dos mais fortes, daqueles que exigem uma preparação refinada. Mais: Neymar é nome certo na convocação final.

    O plano é Dunga comandar as duas seleções, a principal e a olímpica, mas esta última também vai ser acompanhada bem de perto por outro técnico, Rogério Micale.

    Por isso, quando houver coincidência de datas de jogos das seleções, como ocorrerá com amistosos no mês que vem, Micale fica com o time olímpico e Dunga, com o principal. O auxiliar Andrey Lopes também participa do processo.

    Podem atuar na Olimpíada atletas até 23 anos, além de três sem limite de idade, por equipe. A primeira lista de convocados da seleção olímpica foi anunciada por Dunga na semana passada para o amistoso contra a França, em 8 de setembro, em Le Mans.

    A relação mescla jogadores da categoria sub-23 com outros que se destacaram no último Mundial sub-20. A comissão técnica dispõe de uma relação de atletas pré-selecionados, que continuam sendo testados.

    Com esse novo enquadramento de atuação na CBF, Dunga amplia suas responsabilidades. Vanderlei Luxemburgo, em 2000, e Mano Menezes, em 2012, vivenciaram experiências análogas. Perderam na Olimpíada e acabaram demitidos do time principal.

    Um tropeço em casa, na Rio-2016, certamente colocará uma interrogação nos planos da CBF com Dunga para a Copa do Mundo, a esperança do futebol brasileiro de redenção do vexame do ano passado.

    edgard alves

    Jornalista esportivo desde 1971, escreve sobre temas olímpicos. Participou da cobertura de seis Olimpíadas e quatro Pan-Americanos. Escreve às terças.

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024