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    Edgard Alves

    Verba carimbada é saída para legado olímpico?

    08/09/2015 02h00

    Aos trancos, com alguns tropeços, sendo a poluição de águas o de maior repercussão, o Rio de Janeiro supera barreiras rumo ao desafiador ano de 2016. A meta é deixar a cidade em ordem, preparada e equipada para a Olimpíada e Paraolimpíada, no início do segundo semestre do ano que vem.

    Ninguém tem dúvida sobre a complexidade de obstáculos e dificuldades, especialmente de ordem econômica, para organização de um grande evento internacional, como é o caso. Mas tal embaraço vai ser superado, em que pese o alto custo pago por ele, com as estimativas orçamentárias já superando a casa dos R$ 38 bilhões.

    Essa salgada conta, no entanto, que muda a cada nova atualização, como apontado aqui anteriormente, sempre para mais, nunca para menos, não surpreende, embora cause arrepios e seja motivo de questionamentos justos de contribuintes.

    O país, de livre e espontânea iniciativa, reivindicou a organização dos Jogos. Assumiu um compromisso com a comunidade internacional, ou seja, com o COI, que hoje reúne outras 205 entidades nacionais.

    O comitê organizador e os governos da União e do Rio gastam uma fortuna na construção de centros de esportes e vão realizar os Jogos, conforme o prometido. Tudo mais ou menos dentro dos planos. A dúvida é o que virá após os Jogos. Qual a destinação daqueles centros e quem arcará com as despesas gerais para funcionamento dos mesmos?

    Os custos de manutenção de centros de esportes, ginásios e instalações esportivas em geral são altos e nunca cessam. Dessa forma, paradoxalmente, concluir uma obra olímpica significa também "arrumar sarna para se coçar", como reza ditado popular.

    Uma opção seria o COB (Comitê Olímpico do Brasil) e os governos do Rio –municipal e estadual– assumirem essas despesas. A Prefeitura carioca tem intenção de aproveitar espaços olímpicos para centros de treinamento, eventos e projetos sociais.

    Em alguns casos, as confederações esportivas poderiam participar das gestões, dependendo da disponibilidade financeira e da possibilidade de uso permanente do local pela modalidade interessada.

    O CPB (Comitê Paraolímpico Brasileiro) tem projeto pioneiro nessa direção. Pelo menos foi o que anunciou o presidente da entidade, Andrew Parsons, em reportagens nesta Folha.

    O cartola revelou que o CPB planeja bancar o gerenciamento do centro nacional paraolímpico, que está sendo construído às margens da rodovia dos Imigrantes, em São Paulo. A obra –com previsão de custo superior R$ 264 milhões, divididos entre Ministério do Esporte e o governo do Estado de São Paulo–, tem sua conclusão prevista para novembro.

    Estima-se entre R$ 30 milhões e R$ 40 milhões por ano as despesas de manutenção e gerenciamento do centro, que prevê suporte para 14 modalidades paraolímpicas.

    Parsons viu a solução na Lei de Inclusão da Pessoa com Deficiência, sancionada pela presidente Dilma Rousseff, em julho, e que aumenta de 2% para 2,7% o percentual da arrecadação bruta das loterias federais que deve ser destinado ao esporte.

    Solução simples e direta, utilização de dinheiro carimbado para investimento no esporte. O mesmo raciocínio, parece lógico, pode ser empregado no legado olímpico, uma vez que o COB e as confederações recebem robustas verbas governamentais.

    Esse é o desafio que está posto. Definir políticas de gestão das praças olímpicas, fulminando com qualquer possibilidade de surgimento de elefantes brancos.

    edgard alves

    Jornalista esportivo desde 1971, escreve sobre temas olímpicos. Participou da cobertura de seis Olimpíadas e quatro Pan-Americanos. Escreve às terças.

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