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    Edgard Alves

    A cartolagem do futebol está na contramão dos Jogos Olímpicos

    06/10/2015 02h00

    O futebol, paixão esportiva dos brasileiros, que deveria servir de modelo para a delegação nacional nos Jogos Olímpicos em casa, anda na contramão. A cartolagem da CBF corre da Olimpíada como rato de gato. Não compareceu nem enviou representante ao evento de lançamento de São Paulo como subsede dos torneios olímpicos de futebol.

    A modalidade na Olimpíada é da alçada da Fifa. O braço daquela entidade no Brasil é a CBF, e o da CBF em São Paulo, a Federação Paulista de Futebol. Portanto, só havia motivos para protagonismo do futebol na tal cerimônia, nada que justificasse a ausência total.

    O evento, realizado na quarta (30), no estádio do Corinthians, contou com as presenças do governador do Estado e do prefeito da capital paulista, bem como de um integrante do Ministério do Esporte e do presidente do Comitê Rio 2016, Carlos Arthur Nuzman.

    Na condição de anfitrião, Roberto de Andrade, presidente do Corinthians, completou a bancada das autoridades. Das organizações que operam no futebol, no mundo e no país, nem sombra.

    Os discursos foram limpos, embora sempre realçando virtudes das respectivas áreas de cada orador. Esse comportamento é corriqueiro. Entretanto, as autoridades parecem coincidir no entendimento de que a Olimpíada, em parte coberta por verba pública, é um desafio nacional e uma agenda positiva.

    A ausência do futebol teria sido uma falha de comunicação, de protocolo? Ou seja, esqueceram de convidar as entidades do futebol? Pode ser. A solenidade foi noticiada por todos os meios de comunicação, e o futebol continuou calado. Se esquecido ou relegado a um plano menor, teria a obrigação, o dever, de protestar, não aceitando tal descortesia.

    Sobre a ausência de representantes das principais entidades do futebol no evento, Nuzman evitou uma resposta direta. Disse apenas que a responsabilidade do Comitê Rio era a de organizar [os Jogos] e que nada mudaria os planos.

    São Paulo receberá dez partidas dos torneios masculino e feminino de futebol na Olimpíada, todas em Itaquera. Três das rodadas serão duplas. As duas competições terão ainda jogos em outras cinco cidades: Rio, a sede olímpica, Belo Horizonte, Brasília, Salvador e Manaus.

    A CBF e o setor olímpico nacional batem cabeça faz algum tempo, conforme relatado aqui. Repito para refrescar a memória. Antes da última Olimpíada, em Londres-2012, a CBF e o Comitê Olímpico do Brasil voltaram a estreitar relações, superando uma fase de distanciamento. Ricardo Teixeira comandava a CBF e Nuzman, como agora, o COB e o Comitê Rio, da organização da Olimpíada.

    Envolvido em escândalo de propinas na Fifa e em contratos suspeitos no Brasil, Teixeira teve de sair da CBF, sendo substituído por José Maria Marin, ex-presidente da FPF e ex-governador paulista ligado à ditadura militar.

    Em Londres, o gelo voltou. Marin se irritou ao receber resposta negativa a um pedido que fez para ser credenciado com livre acesso para todos os eventos da Olimpíada. Após a volta ao Brasil, mostrou o tamanho do aborrecimento ao não enviar representante da CBF ao pleito que reelegeu Nuzman pela quinta vez para a presidência do COB.

    Depois da Copa-2014, Marin deixou a CBF, sendo substituído por Marco Polo Del Nero. Começou aí outra história escabrosa, que mostra a cara do futebol nacional. Durante estadia na Suíça, em maio, Marin foi detido por corrupção no futebol –continua preso naquele país– numa operação surpresa, a pedido de autoridades dos Estados Unidos.

    Del Nero também estava lá, e às pressas retornou ao Brasil, sem esperar pelos desdobramentos da prisão do colega. Desde então, adotou uma postura no mínimo curiosa: não viaja mais ao exterior, caso desta semana, quando a seleção principal estreia nas eliminatórias da Copa-2018 contra o Chile. O time já está em Santiago, onde joga na quinta.

    O principal cartola da CBF no Chile será o alagoano Gustavo Feijó, um dos vices da entidade, que havia representado Del Nero em amistosos nos EUA, mês passado. Segundo revelou o jornalista Sérgio Rangel, desta Folha, Feijó é um dos homens de confiança de Del Nero. Prefeito de Boca da Mata (AL), ele é aliado político do presidente do Senado, Renan Calheiros, e do senador Fernando Collor.

    Joseph Blatter, reeleito presidente da Fifa naquela mesma oportunidade da prisão de Marin e de outros dirigentes, coincidentemente, não deixa a Suíça, onde fica a sede da entidade. Ele é suspeito de corrupção e já anunciou que vai deixar o cargo.

    Diante desse cenário, no mundo e no Brasil, a vertente olímpica do futebol parece pouco interessante para atrair a atenção da cartolagem do setor, como no evento do monumental estádio do Corinthians, em Itaquera.

    edgard alves

    Jornalista esportivo desde 1971, escreve sobre temas olímpicos. Participou da cobertura de seis Olimpíadas e quatro Pan-Americanos. Escreve às terças.

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