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    Edgard Alves

    Crises política e econômica assustam cartolagem olímpica

    15/12/2015 02h00

    O Comitê Olímpico Internacional e o Comitê Rio 2016, os responsáveis pela organização da Olimpíada-2016, tomaram atitude numa tentativa de neutralizar os efeitos das crises econômica e política –aqui, destaque para o processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff–, e assim contornar riscos nos preparativos do evento no Brasil.

    Na semana passada, a reforma do estádio de remo da Lagoa Rodrigo de Freitas parou por falta de verbas, que não foram liberadas pelo governo do Estado do Rio de Janeiro. Uma situação para ser reavaliada.

    Recentemente, o mesmo governo havia revelado dificuldades para pagar o décimo terceiro salário do funcionalismo.

    Por causa de situações desse tipo, os comitês ajustam os planos para a arrancada final, já que a abertura dos Jogos está programada para agosto próximo. O cenário está complicado e ninguém garante que vai melhorar em curto espaço de tempo.

    O Comitê Rio se recusa a revelar valores, mas adianta que está revisando projetos em busca de possíveis cortes de gastos. E o COI, além de participar do processo, respalda as decisões, inclusive interferindo para evitar críticas das federações internacionais.

    Cada federação –a Olimpíada prevê competições em 28 esportes, no total de 42 modalidades– quer o melhor para a sua área e qualquer desvio de rota é motivo para chiadeira e protestos. Por isso o COI está alerta, pronto para se transformar em algodão entre cristais.

    Um exemplo concreto pode ser o do parque aquático Maria Lenk, para o qual estava prevista uma cobertura provisória, agora descartada. Não era uma obra essencial para as disputas no local, mas um conforto a mais que a Federação Internacional de Natação reivindicava que fosse mantido. Acabou descartado do projeto com aval do COI. Os organizadores ficaram blindados contra as críticas.

    É certo, no entanto, que os preparativos para os Jogos foram afetados pela crise econômica, razão do reposicionamento. O cenário atual contrasta com o do ano de 2009, quando o Rio conquistou o direito de abrigar os Jogos.

    Nesse novo contexto, é o momento de o comitê organizador e de a Autoridade Pública Olímpica, o consórcio criado para harmonizar as relações das três áreas de governo –municipal, estadual e federal– envolvidas no projeto olímpico, anunciarem a atualização da estimativa orçamentária dos Jogos, que já tinha atingido a casa dos R$ 38,67 bilhões.

    O prefeito do Rio, Eduardo Paes (PMDB), se engajou nessa campanha de proteção aos Jogos, que sempre foram um compromisso da cidade, embora o governo federal também tenha assumido responsabilidades. Recentemente, Paes teria acertado detalhes pessoalmente com o presidente do COI, o alemão Thomas Bach, num encontro em Paris.

    Segundo Christophe Dubi, diretor do COI, Paes também "apresentou garantias" contra crises, via videoconferência, aos integrantes do comitê executivo da entidade, que se reuniram em Lausanne, Suíça, na semana passada.

    A grande verdade é que muita negociação ainda vai rolar nos sete meses e poucos dias que faltam até os Jogos. É difícil, mas necessário, correr também atrás de recursos privados, pois as fontes públicas estão exauridas.

    Certa vez, numa conversa sobre relações trabalhistas com um empresário, ouvi dele uma frase intrigante: "Meu filho, sem bilheteria não tem circo". Cairia bem na atualidade para os organizadores de Olimpíada.

    edgard alves

    Jornalista esportivo desde 1971, escreve sobre temas olímpicos. Participou da cobertura de seis Olimpíadas e quatro Pan-Americanos. Escreve às terças.

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