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    Edgard Alves

    Trapaça atrapalha planos do atletismo russo para Olimpíada

    05/01/2016 02h00

    Este ano olímpico começa quente e tenso para o atletismo da Rússia, castigado e suspenso de competições internacionais por conta do escândalo de doping envolvendo a equipe daquele país.

    A participação dos russos nos Jogos do Rio, em agosto, ainda é dúvida. No domingo (10) e na segunda-feira, uma comissão de especialistas da Wada (Agência Mundial Antidoping) visitará o país para checar se as irregularidades, que permitiram trapaças, estão sendo superadas.

    É mais um passo para o atletismo russo na tentativa de resgatar a sua abalada credibilidade, tamanho foi o acobertamento e o incentivo ao uso de doping no país. Na verdade, uma comissão da Wada já vem trabalhando por lá desde meados de dezembro, supervisionando o controle de dopagem enquanto a Rusada (Agência Antidoping Russa) e o laboratório antidoping de Moscou também continuam suspensos.

    O presidente da Associação Europeia de Atletismo, Svein Arne Hansen, declarou recentemente que não acredita na participação dos russos na Olimpíada. O primeiro relatório da comissão independente que fiscaliza o enquadramento da Rússia no padrão da Wada será finalizado apenas em março, e só então encaminhado à IAAF (Associação Internacional das Federações de Atletismo).

    Dependendo da avaliação dos inspetores, as portas dos eventos internacionais poderão se abrir para o atletas do país. Será a oportunidade para eles partirem atrás dos índices que garantirão vagas na Olimpíada.

    Mesmo que tudo corra bem, vale ressaltar que não será uma tarefa fácil. Como os atletas visarão índices, eles treinarão com intensidade, mas estarão pressionados pela incerteza sobre se poderão ou não competir. Depois vai pesar também o pouco tempo disponível para as tentativas de obtenção de índices. Tudo martelando na cabeça.

    O atletismo russo necessita de uma mudança completa, radical e cultural, que exige o afastamento de toda a cartolagem ligada às falcatruas, como a prática de dopagem, destruição de amostras de exames em laboratório e acobertamento de atletas flagrados por uso de doping. São medidas que não vingam da noite para o dia, levam muito tempo para se firmarem e resgatarem a credibilidade perdida.

    Como essa história maldita do atletismo russo começou? Em dezembro de 2014, o canal alemão ARD levou ao ar o documentário "Top Secret Doping: How Russia makes its winners". A exposição de ilicitudes levou a Wada a criar uma comissão independente para investigar as irregularidades apontadas. Cerca de doze meses depois, todas as denúncias se revelaram verdadeiras.

    Nos eventos de atletismo da última Olimpíada, em Londres-2012, com o total de 16 medalhas (sete de ouro) a Rússia ficou atrás apenas dos Estados Unidos, com 27 (oito de ouro), sendo que 41 países medalharam e 22 chegaram ao ouro, alguns apenas uma vez.

    Portanto, a Rússia é importante protagonista na modalidade, embora manchada pela dúvida de se jogou limpo, sem doping.

    Inacreditável

    Reportagem publicada pela Folha, na segunda (04), detalha como João Miguel Neto, 20, revelação da seleção brasileira de taekwondo, provou inocência após suspensão de oito meses por doping e agora luta por vaga na Rio-2016.

    Até aí nenhuma reparo. No texto, porém, o atleta revela sua saga no Aberto do Egito. Após ganhar a medalha de prata, foi recebê-la no pódio. Tudo dentro dos conformes, não fosse o fato de que estava convocado para se submeter ao antidoping, embora não estivesse ciente disso porque não falava inglês. Em resumo, acabou acusado de ter fugido do exame e punido.

    A pergunta: o lutador não tinha nenhum respaldo da confederação brasileira da modalidade, alguém que o assistisse durante o evento? Nenhum cartola ou técnico? Será essa a realidade de um atleta do Brasil, país da Olimpíada?

    edgard alves

    Jornalista esportivo desde 1971, escreve sobre temas olímpicos. Participou da cobertura de seis Olimpíadas e quatro Pan-Americanos. Escreve às terças.

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