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    Edgard Alves

    Basquete ainda não sabe como sair da confusão no feminino

    26/01/2016 02h00

    A seleção brasileira feminina de basquete está envolvida numa confusão, e não sabe como sair dela. É uma situação difícil que, para ser contornada, depende do bom senso da cartolagem, hipótese sempre pouco provável.

    Em ano de Olimpíada no Brasil, é inacreditável tal impasse. De um lado estão os clubes da liga principal (LBF) e do outro a CBB, a confederação nacional da modalidade. As jogadoras ficam no meio, pressionadas pelos dois lados.

    Os argumentos das partes em litígio mostram algum acerto e muitos desacertos. Levando-se em conta o momento, às portas dos Jogos no Rio, caso uma saída não seja encontrada, crescem as chances de um vexame olímpico. Com poucas jogadoras de alto nível, a seleção do Brasil perde muita força desfalcadas de várias de suas principais atletas.

    O conflito começou quando cinco –Santo André, Corinthians/Americana, América/Recife, Maranhão Basquete e Presidente Venceslau– dos seis clubes da liga nacional (LBF) decidiram enfrentar a Confederação Brasileira de Basquete. Apenas o Sampaio, também do Maranhão, ficou de fora. Eles queriam o controle sobre a seleção nacional. A CBB não aceitou.

    Criticado pelos clubes, o técnico Zanon, alegando problemas de saúde, pediu afastamento da equipe nacional, mas já tinha anunciado a convocação das jogadoras para o evento-teste da Olimpíada, disputado em meados de janeiro.

    A CBB chamou o experiente técnico Antônio Carlos Barbosa, com várias passagens pela seleção nas últimas quatro décadas. Com vínculo empregatício nos seus clubes, as atletas dos times revoltados descartaram a convocação.

    Barbosa providenciou uma convocação de emergência, e a seleção brasileira terminou em segundo lugar no evento-teste, com vitórias sobre a Venezuela e Argentina e derrota diante da Austrália.

    O improviso deu certo. A CBB ganhou um pouco de fôlego, mas, a seguir, o Superior Tribunal de Justiça Desportiva, numa atitude incompreensível, intimou as atletas que tinham pedido dispensa da seleção para prestarem esclarecimentos.

    Arbitrariedade injustificável. Se a intenção não era a de punir as atletas, mas encontrar provas contra os times que aderiram ao boicote, a atitude do STJD foi truculenta.

    Ninguém é obrigado a aceitar convocação para servir qualquer representação esportiva nacional. Atende ao chamado da comissão técnica quem quer. A CBB, por sua vez, negou em nota oficial participação nas intimações e descartou qualquer represália contra as jogadoras.

    O auditor do STJD, Paulo Valed Perry, posteriormente, tentou amenizar o impacto negativo da atitude, ressaltando ser o tribunal independente da confederação. Justificou ainda que as atletas não estavam sendo acusadas de nada e que tinham sido convocadas apenas para prestar esclarecimentos sobre os fatos em discussão.

    Uma postura que pode ser interpretada como a de colocar cadeado depois de a porta ter sido arrombada. O auditor deve agora elaborar um relatório sobre o assunto e encaminhá-lo ainda esta semana ao presidente do STJD.

    O basquete só teve vaga assegurada na Olimpíada por convite, após outro mico, quando a CBB precisou se comprometer a pagar dívida na Fiba. Para evitar um novo vexame, diplomaticamente, a confederação de basquete precisa agir com rapidez. É imprescindível que o tribunal use água, e não mais querosene, para apagar esse fogo basqueteiro.

    edgard alves

    Jornalista esportivo desde 1971, escreve sobre temas olímpicos. Participou da cobertura de seis Olimpíadas e quatro Pan-Americanos. Escreve às terças.

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