• Colunistas

    Sunday, 05-May-2024 19:36:06 -03
    Edgard Alves

    Arrancada final da Olimpíada esbarra nos temores da zika

    09/02/2016 02h00

    Termina o Carnaval e começa a arrancada final dos preparativos para a abertura da Olimpíada em agosto próximo. O Comitê Rio 2016, responsável pela organização do evento, tem muitos problemas para resolver. Para complicar, um imprevisto –os riscos do vírus da zika– passou a ser a maior preocupação para os Jogos.

    É uma questão de saúde pública, com incidência em escala mundial. O episódio provoca questionamentos aos organizadores dos Jogos, que precisam responder sobre garantias de segurança aos visitantes.

    A prevenção, controle e combate da calamidade são da competência de governos e de instituições de saúde. Aproximadamente 11 mil atletas estarão no Rio, mais incontável número de cartolas esportivos, bem como milhares de jornalistas, profissionais de apoio em geral e turistas.

    Na década de 70, incidente semelhante –proliferação da meningite– serviu de justificativa para o Brasil cancelar os Jogos Pan-Americanos, que estavam programados para São Paulo. O evento acabou transferido para a Cidade do México, em 1975.

    Informações de bastidores, no entanto, apontaram outra motivação para a medida. As verbas previstas para investimento nos Jogos teriam sido desviadas para campanhas das eleições regionais de 1974, nas quais o comando da ditadura vislumbrava um retumbante fracasso dos seus candidatos.

    Foi um posicionamento radical, obscuro, mas o Brasil estava dominado pela ditadura militar, período no qual as decisões de interesse público eram pouco ou nada transparentes. De fato, as eleições deixaram o governo militar de cabelo em pé e as urnas comprovaram a insatisfação popular.

    O panorama político atual do Brasil é outro, bem diferente do daqueles tempos. Entretanto, a cada dia, com a proliferação da zika rompendo fronteiras, o Comitê Olímpico Internacional procura respaldar o Comitê Rio, tentando tirá-lo da linha de cobranças.

    É uma ação para que os Jogos não venham a ser prejudicados por ausências, ou seja, para evitar que a onda de temor se transforme em terror e vire obstáculo para as viagens ao Brasil.

    O presidente daquela organização, o alemão Thomas Bach, declarou estar confiante nas atitudes tomadas pela OMS (Organização Mundial de Saúde) e pelas organizações regionais de combate ao vírus da zika. Segundo ele, além do estado de emergência global, a OMS reforça o alerta, que ajuda a disponibilizar fundos para combater o problema.

    Não esqueceu de dizer que está vendo o empenho das autoridades brasileiras em campanhas para reduzir os riscos e controlar o vírus por aqui. Em outras palavras, busca isentar o comitê organizador de qualquer tipo de responsabilidade, embora este corra o risco de ser envolvido por ele.

    A proliferação da epidemia, no entanto, faz aumentar as preocupações. O Usoc (Comitê Olímpico dos Estados Unidos) teria comunicado às federações esportivas daquele país, durante uma teleconferência, que seus atletas não serão obrigados a competir no Brasil caso tenham receio de contrair o vírus da zika. Oficialmente, nada foi publicado.

    Paralelamente ao transtorno causado pelo vírus, os preparativos para os Jogos caminham a todo vapor, apesar do confuso panorama político-econômico nacional e, em especial, da complicada falta de recursos do Estado do Rio de Janeiro.

    Na parte esportiva, o comitê organizador enfrenta demandas do remo e da vela, levantadas durante encontro recente do COI e das 28 federações internacionais dos esportes que participarão da Olimpíada.

    A cartolagem do remo está irritada por ter perdido a arquibancada flutuante, prevista inicialmente para ser construída na Lagoa Rodrigo de Freitas, e que acabou cancelada por conta da crise econômica.

    A vela continua atenta e preocupada com o nível de poluição da Baía de Guanabara, que pode afetar a saúde dos atletas e arruinar as competições caso haja muita sujeira no local. A Federação de Vela quer maior rigor no monitoramento da qualidade das águas.

    Enfim, a Quarta-feira de Cinzas é um novo marco dos Jogos. Cessam os sons das cuícas e dos tamborins. E deve aumentar a cada dia a preocupação com o zumbido dos mosquitos, que é o que deveria parar.

    edgard alves

    Jornalista esportivo desde 1971, escreve sobre temas olímpicos. Participou da cobertura de seis Olimpíadas e quatro Pan-Americanos. Escreve às terças.

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024