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    Edgard Alves

    O impeachment e a Olimpíada

    19/04/2016 02h00

    A autorização pela Câmara dos Deputados para a abertura de processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff é uma pedra na reta final do caminho para a abertura dos Jogos Olímpicos do Rio, em 5 de agosto.

    Nos próximos meses, todas as ações de governo estarão atreladas à crise política no país. Nada passará distante dela. A Olimpíada, evento internacional de grande porte, envolve todas as áreas governamentais, da União ao município do Rio de Janeiro.

    Portanto, a nota distribuída pelo COI (Comitê Olímpico Internacional), na segunda-feira (18), apontando que a Olimpíada é "oportunidade importante para unir o povo do Brasil", soa compreensível no momento, mas também deve ser encarada com reservas.

    Levando-se em conta o avançado estágio das obras, o COI aproveitou a oportunidade para anunciar que a organização do evento entrou numa fase operacional em que questão política tem pouca influência. Outra maneira polida de contornar envolvimento em polêmica.

    O diretor-executivo do COI, Christophe Dubi, já havia dito que a preparação para os Jogos estava preservada. Declarou isso na semana passada, agitada pela movimentação política, mas antes da votação na Câmara. Ele estava no Rio, dividindo com Nawal El Moutaakel, a presidente da comissão do COI que acompanha os preparativos para os Jogos, a décima e última vistoria oficial do andamento dos trabalhos.

    Como era de se esperar, repetiram diversas vezes que o COI é uma organização que não se envolve em política, driblando qualquer declaração envolvendo acontecimentos brasileiros –sociais, políticos e econômicos.

    O Comitê Rio-2016, responsável pela organização dos Jogos, e a cidade do Rio de Janeiro, a sede do evento, têm muito trabalho pela frente, especialmente a finalização de grande parte dos projetos, sempre uma etapa complicada e exigente nos detalhes.

    As conclusões de duas obras –do Velódromo e da linha 4 do Metrô, que liga a zona sul à Barra da Tijuca– são as mais atrasadas. Apesar disso, os organizadores garantem que estarão prontas. Um grupo de trabalhadores em obras da Olimpíada protestou nesta segunda-feira contra atraso no pagamento de seus salários.

    Na repercussão internacional da votação em Brasília, chamou a atenção notícia da rede americana CNN, dando conta de que o processo de impeachment contra a presidente Dilma ocorre às vésperas dos Jogos Olímpicos no Rio, "evento que deveria exibir o Brasil como um poder ascendente no cenário global". O pedido de impeachment teria alterado essa cena? Ou ela é a imagem de inúmeros outros problemas?

    O Rio enfrenta grave crise financeira, que atinge vários setores, castiga a população, dificulta o atendimento nos hospitais públicos e atrasa o pagamento de aposentados e pensionistas do Estado.

    A Olimpíada, empreendimento assumido pelo país há pouco mais de seis anos, valeu-se nesse período de compromissos políticos e investimentos públicos e privados. E caminha para o seu desenlace. Os Jogos são uma opção de mostrar a cara do Brasil, como ele é de fato, com transparência, sem qualquer maquiagem.

    edgard alves

    Jornalista esportivo desde 1971, escreve sobre temas olímpicos. Participou da cobertura de seis Olimpíadas e quatro Pan-Americanos. Escreve às terças.

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