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    Edgard Alves

    Olimpíada em tempos de incertezas

    10/05/2016 02h00

    O desconcerto dos atores da política nacional pouca coisa vai mudar no cenário da Olimpíada do Rio. O polêmico caso do processo de impeachment contra Dilma Rousseff —que, inicialmente, poderá implicar o afastamento da presidente do cargo por até 180 dias— foi agravado com os episódios desta segunda-feira (9), em Brasília.

    Michel Temer, eventual substituto da presidente, e o prefeito do Rio, Eduardo Paes, que virou protagonista dos preparativos para os Jogos por causa das obras sob sua responsabilidade, até já conversaram sobre o assunto.

    Segundo o prefeito afirmou ao UOL (empresa do Grupo Folha, que edita a Folha), Temer telefonou para dar garantias ao COI de que nada mudará se tomar posse antes dos Jogos.

    Na hipótese da permanência de Dilma no cargo, pouco provável no momento, os trabalhos também devem prosseguir normalmente.

    Falta pouco para a finalização das obras olímpicas, e o Comitê Rio 2016, responsável pela organização da Olimpíada, sob a direção de Carlos Arthur Nuzman, segue atuando contra o tempo que resta.

    Os Jogos assumidos pelo Brasil em 2009, quando Lula ainda era o presidente, tiveram o respaldo de Dilma. Dentro do possível, com algumas alterações durante as execuções, os planos seguiram praticamente o rumo traçado, e a tocha corre o território brasileiro para a solenidade de abertura, em 5 de agosto.

    Nada disso, no entanto, significa um selo de excelência.

    Há imperfeições. A promessa de tratar os esgotos que deságuam na Baía de Guanabara é a principal delas. Fracassou. Seria o maior legado dos Jogos.

    O planejamento olímpico contou no seu percurso com experiências relevantes, como a da Copa do Mundo de 2014 e as das manifestações populares do ano anterior. Ainda é cedo para afirmar que foram aproveitadas como boas lições na organização de grandes eventos em território brasileiro.

    A Olimpíada se converte no teste derivado daqueles eventos, mesmo sendo outro o momento da política, da economia, do (des) emprego e da situação social. Na verdade, um quadro mais complicado do que naquelas oportunidades.

    O Brasil está gastando quase R$ 40 bilhões, parte deles de verbas públicas, com a Olimpíada e os investimentos em infraestrutura a ela vinculados. É muito dinheiro.

    Dessa forma, enquanto o organizador tem pesados gastos com os Jogos, é instigante a revelação do jornalista Jamil Chade, em "O Estado de S. Paulo", de que o COI (Comitê Olímpico Internacional), entre 2013 e 2016, prevê o acúmulo da maior receita de sua história, de aproximadamente US$ 5,5 bilhões.

    Com receita de tal porte, o COI deveria colaborar mais no financiamento da organização dos Jogos. A própria entidade avaliou as dificuldades provocadas pelo gigantismo que envolveu as Olimpíadas nas últimas décadas. Mas evita abrir os cofres da forma mais justa.

    Em compensação, adotou a Agenda 2020, que passa a vigorar para valer a partir de 2024, com recomendações para driblar a ostentação e o desperdício na organização dos Jogos.

    É o bom senso, embora com prazo para valer. Melhor do que a política nacional, que opta pela total ausência de bom senso.

    edgard alves

    Jornalista esportivo desde 1971, escreve sobre temas olímpicos. Participou da cobertura de seis Olimpíadas e quatro Pan-Americanos. Escreve às terças.

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