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    Edgard Alves

    Especulação sobre manipulação de resultados deixa suspeitas no boxe

    05/08/2016 02h00

    É muito difícil em campeonato de boxe não haver lamentos contra resultados de lutas. Sempre há uma equipe ou pugilista que reclama de ter sido prejudicado. Nesse aspecto, a Rio-2016 está inovando. Tem polêmica antes mesmo do início das disputas, neste sábado (6).

    Isto porque o site do "The Guardian" noticiou a hipótese de vir a ocorrer uma possível manipulação de resultados na Olimpíada. Nada com provas irrefutáveis, mas o simples anúncio torna a informação picante nas vésperas da abertura dos Jogos, jogando uma nuvem de suspeitas sobre o torneio de boxe.

    Reprodução/Twitter Aiba
    O russo peso-pesado Evgeny Tischenko, durante final do mundial de boxe em 2015
    O russo peso-pesado Evgeny Tischenko, durante final do mundial de boxe em 2015

    A possibilidade de combinação de resultado seria realizada por meio de acertos entre jurados, que fariam gestos de cabeça ou mãos para indicar se um golpe foi válido ou quem seria o vencedor até aquele momento.

    Contudo, técnicos e atletas disseram ao jornalista Lucas Vettorazzo, desta Folha, não crer em algo do tipo. Segundo o técnico da Espanha, o duas vezes medalhista Olímpico Rafael Lozano (bronze em Atlanta-96 e prata em Sidney-00), não é impossível que haja combinação, mas é improvável.

    Para ele, o fato de o julgamento da luta ser visual — cinco jurados precisam confirmar o golpe pressionando um botão em pouco espaço de tempo para validar o golpe— pode ensejar críticas à atuação. Ao final do round, cada um dos cinco jurados deverá escolher o vencedor do round lhe dando 10 pontos e, ao perdedor, de 9 a 6. Um computador escolhe as notas de três deles. A soma dos pontos ao final determina o vencedor da luta.

    O chefe do time de boxe da Tailândia, Paiboon Srichaisawat, foi árbitro em Sidney. Ele lembra que acima do corpo de jurados há a figura do supervisor, que pode questionar e até cassar a pontuação. Mas isso é difícil de ocorrer. O técnico brasileiro, Otílio Toledo, engrossa o coro dos que afirmam não haver manipulação.

    Esta edição da Olimpíada, coincidentemente, dá um pontapé inicial numa nova era do boxe olímpico, até pouco tempo atrás impensável. Os homens passam a lutar sem o capacete protetor, que continua mantido para as mulheres. Sem ele, lamentavelmente, é provável que o sangue dos atletas possa colorir mais as lutas. A forma da contagem de pontos também mudou.

    Não bastassem esses detalhes, a Aiba (Associação Internacional de Boxe Amador), responsável pela Olimpíada, mexeu num tabu antes difícil de imaginar que fosse possível: a participação de atletas profissionais nos Jogos. Mas essa decisão, tomada poucos meses antes da abertura, pouca repercussão terá nestes Jogos, pois não atraiu nenhum pugilista de renome.

    A informação sobre a manipulação de resultados praticamente supera o debate sobre as inovações. A Aiba classificou como rumores as acusações de corrupção. Mas o estrago está feito e não faltarão olhos atentos para coibir maracutais. Paradoxalmente, é um tempero a mais para as lutas.

    edgard alves

    Jornalista esportivo desde 1971, escreve sobre temas olímpicos. Participou da cobertura de seis Olimpíadas e quatro Pan-Americanos. Escreve às terças.

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