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    Edgard Alves

    Encurraladas, sedes da Olimpíada agem para conter planos ambiciosos

    25/10/2016 02h00

    O Comitê Olímpico Internacional foca a atenção nos futuros Jogos sob sua responsabilidade e mando. O cenário não passa de uma repetição do que vem ocorrendo há muito tempo, com organizadores encurralados pelo tempo restante para preparação dos eventos e, principalmente, pelas dificuldades de recursos diante do alto padrão de exigências do COI.

    Nos dossiês de candidatura, as cidades interessadas em promover a Olimpíada carregam nas tintas, com projetos que ultrapassam suas capacidades, especialmente as econômicas. Tudo é ajustado em função das normas do COI e planejado para superar as candidaturas concorrentes.

    Os dois desafios resultam em exageros, com projetos dependentes de futuras captações de recursos públicos e privados. No final, contas a pagar acabam no colo dos governos e credores de muitas delas ficam sob o risco de prejuízo.

    Essa esdrúxula situação foi reconhecida pelo próprio COI, que, diante da possibilidade de chegar a um ponto insustentável, antecipou-se aprovando novas regras, mais maleáveis e com menos gastos, para a organização futura de eventos. Mas elas só valerão completamente a partir de 2024.

    Tóquio-2020 tenta incorporar por antecipação parte desse novo espírito. A capital japonesa pretendia realizar todos os eventos em centros distantes poucos quilômetros uns do outros. Mas, para viabilizar contenção de despesas, reforma seus projetos com a intenção de colocar competições, como as de remo e canoagem, a 400 km da sede.

    O objetivo é aproveitar instalações existentes nos novos locais. O próprio presidente do COI, Thomas Bach, manteve recentemente encontro com autoridades japonesas e afirmou que haverá uma "redução significativa" nos custos dos Jogos-2020 para sustentabilidade do evento.

    Beth Santos/Divulgação/PCRJ
    O prefeito Eduardo Paes e a governadora da cidade de Tóquio, Yuriko Koike, participaram de coletiva de imprensa para falar sobre o flag handover, a passagem da bandeira olímpica. A bandeira será entregue para Tóquio, cidade que receberá os Jogos Olímpicos em 2020, pelo prefeito do Rio durante a cerimônia de encerramento dos Jogos Rio 2016, no próximo domingo.
    O prefeito Eduardo Paes e a governadora da cidade de Tóquio, Yuriko Koike

    O comitê organizador da Olimpíada de Inverno, programada para 2018, em Pyeongchang, na Coreia do Sul, também está empenhado na redução de custos. Com o pouco tempo restante até a abertura dos Jogos, parte para a definição do seu quarto orçamento entre o final deste mês e novembro, depois da conclusão de que os anteriores não eram "realistas".

    A Comissão de Coordenação do COI acompanha esse trabalho dos sul-coreanos, levando em conta métodos utilizados nos preparativos da Rio-2016, em meio à crise econômica do Brasil.

    O gigantismo dos grandes eventos esportivos internacionais está pressionado pela crise econômica mundial. A escolha da sede da Olimpíada de 2024 também passou por abalo. Apenas três cidades —Los Angeles, Paris e Budapeste— continuam na disputa. Outras candidatas desistiram.

    Os Jogos de Inverno de 2022 acontecerão em Pequim, que disputou com apenas uma concorrente, Almaty, no Cazaquistão. Já os Jogos Europeus, inaugurados em 2015, em Baku, no Azerbaijão, solucionaram a escolha da sede para 2019 apenas no último fim de semana. Eles estão para a Europa como o Pan para as Américas e o Caribe.

    Os comitês olímpicos europeus, que regem os Jogos, escolheram Minsk, em Belarus. A Holanda planejava assumir a competição, mas os vários níveis de governos locais consideraram a possibilidade "irresponsável". A Rússia também tentou assumir o evento em Kazan e Sochi, mas o escândalo de doping que manchou o desporto russo fulminou a proposta.

    No Rio de Janeiro, a Olimpíada e a Paraolimpíada chegaram ao final sem intercorrências graves. Foram bons Jogos, com organização ao agrado dos participantes, dos torcedores e dos esportistas em geral.

    Aos poucos surgem pendengas, como a falta de pagamento aos 140 mil consumidores que puseram seus ingressos na revenda oficial do Comitê Organizador Rio-2016, que promete o reembolso. O comitê também deve ao menos R$ 20 milhões a fornecedores. Além disso, o sonhado legado olímpico vai exigir gastos para funcionamento e manutenção.

    Com a crise econômica a todo vapor, um dos dilemas da Rio-2016 é o fechamento das contas olímpicas. Vai dar pé?

    edgard alves

    Jornalista esportivo desde 1971, escreve sobre temas olímpicos. Participou da cobertura de seis Olimpíadas e quatro Pan-Americanos. Escreve às terças.

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