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    Edgard Alves

    Nos debates para superar crise, as alternativas da Olimpíada e do Pan

    28/02/2017 02h00

    Bancar eventos como Olimpíada e Jogos Pan-Americanos está cada vez mais complicado. O gigantismo tornou os Jogos Olímpicos praticamente inviáveis para a grande maioria dos 206 comitês olímpicos nacionais atrelados ao COI (Comitê Olímpico Internacional).

    A entidade tenta se adaptar aos novos tempos com a implementação da Agenda 2020, que visa baratear os Jogos, permitindo a utilização de instalações já existentes e outras medidas para reduzir custos. A nova regra, no entanto, chega com muito atraso.

    O Rio de Janeiro abrigou a derradeira Olimpíada nos moldes tradicionais, que exigiam novas instalações, modernas. Além de gastos desnecessários, sempre com o risco da transformação das obras exuberantes em elefantes brancos, após os Jogos.

    A próxima Olimpíada, em Tóquio-2020, está aberta aos benefícios de parte das vantagens da nova regulamentação. A rigor, a Agenda das reformas passa a valer integralmente quatro anos depois.

    Parece pouco tempo, levando-se em conta que a Olimpíada é uma competição centenária, disputada a cada quatro anos, mas o efeito danoso deste lento despertar para o problema acarreta dificuldades.

    Para 2012, nove interessados passaram pelo concurso, vencido por Londres. Tóquio, Madri e Chicago concorreram até o final com o Rio pelos Jogos de 2016, enquanto Doha e Baku chegaram a ser avaliadas, mas acabaram fora. Na sequência, as barreiras econômicas, a crise mundial e a complexidade dos Jogos aumentaram os obstáculos.

    Oito cidades, por exemplo, desistiram de campanhas nos últimos tempos. Roma, Hamburgo, Boston e Budapeste abdicaram das candidaturas aos Jogos de 2024. Oslo, Estocolmo, Cracóvia e Lviv abandonaram a disputa pela Olimpíada de Inverno de 2022, vencida por Pequim no confronto com Almaty, enquanto St. Moritz e Munique chegaram a ensaiar candidaturas, vetadas por plebiscitos.

    Na manifestação mais recente, o governo da Hungria anunciou, na semana passada, a retirada da candidatura de Budapeste para sede da Olimpíada de 2024, alegando falta de unidade política e nacional.

    Opositores locais apresentaram uma petição, com cerca de 250 mil assinaturas, exigindo um referendo de Budapeste sobre a questão. A petição foi o suficiente para fulminar com a iniciativa da candidatura.

    Dessa forma, restam apenas duas concorrentes à sede de 2024: Paris e Los Angeles, cidades que já promoveram os Jogos em duas oportunidades cada.

    Apesar dessas experiências, um dos dirigentes da candidatura da capital francesa, Tony Estanguet, adiantou que esta será a última tentativa de Paris para obter o direito de receber os Jogos. A cidade fracassou cinco outras vezes, sendo superada nas últimas por Pequim e Londres.

    Diante da nova realidade, o COI estuda possível alteração no sistema das candidaturas. Para as sedes de 2024 e 2028, uma hipótese seria apontar, antecipadamente, Paris e Los Angeles como as vencedoras, não necessariamente nesta ordem. Na verdade, promover um acordo entre as duas cidades, descartando uma corrida para 2028.

    Temor semelhante à falta de candidaturas no futuro vem ocorrendo com os Jogos Pan-Americanos. A próxima edição está agendada para 2019, em Lima, no Peru. Para o ciclo seguinte, a sede de 2023, apenas Buenos Aires e Santiago manifestaram interesse.

    Os obstáculos econômicos do Pan são menos impactantes do que os da Olimpíada. Em contrapartida, nas duas últimas décadas caiu a relevância do evento para os países das Américas e do Caribe. Muitos enviam equipes de segunda linha para alguns dos esportes da competição poliesportiva.

    A Odepa (Organização Desportiva Pan-Americana) também se movimenta na tentativa de mudar esse quadro negativo do Pan. A ideia seria tornar os torneios de vários dos seus esportes classificatórios para a Olimpíada seguinte. Uma maneira de valorizar as disputas e despertar o interesse dos participantes.

    Novos caminhos da Olimpíada e do Pan deverão pautar debates na sessão de setembro do COI, em Lima. Lá, a sede olímpica de 2024 vai ser escolhida. E o Pan é lição da casa, que vai abrigar o evento em 2019.

    Todas as possíveis mudanças envolvem COI, federações internacionais de cada esporte e Odepa. Uma chance de ouro para os cartolas mostrarem alguma competência ou empurrarem os grandes eventos mais para a beira do abismo.

    edgard alves

    Jornalista esportivo desde 1971, escreve sobre temas olímpicos. Participou da cobertura de seis Olimpíadas e quatro Pan-Americanos. Escreve às terças.

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