O doping no esporte está deixando de despontar como fato excepcional, embora seja relevante. Na atualidade, com raras exceções, flagrantes em testes antidoping viram notícia bombásticas, de repercussão.

Episódios de uso de substâncias proibidas ganham expressão quando atingem patamar diferenciado, como ocorreu na Rússia. Naquele enredo foi constatado até a participação do Estado na utilização de drogas ilícitas para melhoria de rendimento de atletas.

Notícias sobre doping devem ser destacadas. São importantes na implementação de uma política de combate ao problema, mas estão virando assunto de rodapé. Por quê? Tecnologias modernas e sofisticadas apanham atletas a rodo, a maioria deles de pouca ou nenhuma expressão.

A exploração em manchetes dispara mesmo quando grandes estrelas do esporte caem na rede. Um exemplo foi protagonizado pela russa Maria Sharapova, que cumpriu suspensão e voltou recentemente ao circuito mundial de tênis.

Tem um caso recente no Brasil, ainda sujeito a confirmação, envolvendo um astro do esporte, o jogador Murilo Endres, 36, da equipe de vôlei do Sesi-SP e que por muitos anos integrou a seleção brasileira.

Murilo, bicampeão mundial pela seleção e bimedalhista olímpico de prata, registrou positivo para furosemida em teste-surpresa –realizado no dia a dia, fora de competição–, aplicado pela Federação Internacional de Vôlei.

Escândalo? Não, de jeito nenhum nos dias correntes. Além disso, nem sequer saiu o resultado da contraprova, embora seja sempre remota a hipótese de uma reviravolta.

A furosemida é um diurético que ajuda na perda de peso, mas pode também ser usada para mascarar outras substâncias ilícitas. Essa droga já arranhou outras estrelas brasileiras, como o nadador Cesar Cielo, que retomou sua carreira, e a ex-ginasta Daiane dos Santos.

Enfim, Murilo, que já passou por outros testes antidoping, vive um momento delicado em sua carreira de atleta aos 36 anos de idade. Continuar até quando? Ou enveredar por outros caminhos no mundo do vôlei? O torcedor, certamente, prefere vê-lo em ação nas quadras. A coluna, idem, lamentando o tropeço.

A experiência de Sharapova foi diferente. Provocou ondas de opiniões contra e a favor da tenista, apanhada em antidoping pelo uso de Meldonium (medicamento anti-isquemia, fabricado principalmente na Letônia), incluído na lista de substâncias proibidas a partir de janeiro de 2016.

Menos de um mês depois ela foi flagrada. A suspensão era por dois anos, mas acabou reduzida para 15 meses, coincidindo com seu aniversário de 30 anos.

Apesar das alegações da atleta de que havia mais de uma década vinha usando a droga, consumida por milhões de pessoas no Leste Europeu, e que a comunicação sobre a proibição do medicamento não fora contundente, outros fatores pesaram na redução da punição.

Um deles, talvez o principal, como já relatado aqui, foi o crescimento do número de seguidores da bela e competente tenista russa nas mídias sociais, mesmo com a suspensão em vigor. Uma situação sem paralelo. Coisas mundanas.

CORRUPÇÃO

O jornalista Maurício Lima, no Radar On-line, da revista "Veja", revela que "a Procuradoria da Fazenda, a Receita e a Polícia Federal preparam uma grande operação contra as confederações esportivas. O objetivo final é o Comitê Olímpico Brasileiro".

No momento, várias confederações já enfrentam investigações e dirigentes da Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos estão presos no Rio. Em meados do ano passado foi desencadeada a Operação Nemeus na busca pela identificação de fraudes em licitações e desvios de recursos públicos na área de esportes.

edgard alves

Jornalista esportivo desde 1971, escreve sobre temas olímpicos. Participou da cobertura de seis Olimpíadas e quatro Pan-Americanos. Escreve às terças.