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    Edgard Alves

    A inusitada corrida para escolha da sede olímpica

    23/05/2017 02h00

    Ed Jones/AFP
    Instalação no resort Alpensia que receberá as provas de esqui nos Jogos de PyeongChang
    Instalação no resort Alpensia que receberá as provas de esqui nos Jogos de PyeongChang

    A cada dia fica mais difícil imaginar uma hipótese de conflito para a inusitada possibilidade de se eleger numa única tacada as sedes das Olimpíadas de Verão de 2024 e de 2028.

    Uma escolha dobrada de sedes é inédita, mas passou a ser cogitada pelo COI (Comitê Olímpico Internacional) após dificuldades para se encontrar candidaturas de peso dispostas a bancar os Jogos.

    O gigantismo que o evento atingiu nas últimas três décadas inibe candidaturas. Paris e Los Angeles mantiveram suas propostas para 2024, enquanto Roma, Hamburgo e Budapeste saíram da disputa, depois de avaliações de governos e consultas populares.

    A iniciativa americana chegou a lançar a candidatura de Boston, que desistiu, abrindo espaço para Los Angeles. Em 2020, os Jogos acontecerão em Tóquio.

    O desafio do crescimento se dá também com a Olimpíada de Inverno, que terá disputas no ano que vem em PyeongChang, na Coreia do Sul, e, em 2022, em Pequim.

    Os últimos Jogos de Inverno, em Sochi-2014, na Rússia, registraram um recorde assustador: consumiram US$ 51 bilhões, com gastos gerais, infraestrutura e comitê organizador. Eventos desse porte afastam candidaturas, dificilmente as atraem.

    Os sul-coreanos, no entanto, estão procurando caminhar na contramão dessa corrente, buscando limitar despesas. Reportagem de Paulo Roberto Conde, na semana passada, dá boa ideia do contraste entre PyeongChang e Sochi.

    Elegeram a pequena cidade (cerca de 40 mil habitantes) para abrigar os Jogos e não titubearam na contenção de custos. As despesas exclusivas do comitê organizador, por exemplo, estão estimadas em US$ 2,1 bilhões, ou seja, 30% das de Sochi.

    Entretanto, a nove meses da abertura do evento, o comitê não havia conseguido captar a meta de US$ 832 milhões em patrocínios, embora tenha atingido 92% (US$ 754 milhões). Além disso, a venda de ingressos anda muito aquém do planejado para este período.

    As candidatas aos Jogos de Verão, por sua vez, já organizaram o evento duas vezes cada, Paris, em 1900 e 1924, e Los Angeles, em 1932 e 1984.

    Mas os americanos também promoveram o evento em St.Louis-1904 e em Atlanta-1996. Os dois países tiveram candidaturas derrotadas em oportunidades recentes.

    Com a nova agenda do COI, que passa a vigorar integralmente em 2024, permitindo o uso de instalações existentes, reduzindo o volume de obras, tanto Paris como Los Angeles oferecem vantagens nesse sentido, uma forma de barateamento dos Jogos.

    A tradição esportiva dos EUA é incomparável, certamente um ponto a favor de Los Angeles. Os franceses, porém, estão empenhados na campanha.

    Para mostrarem suas capacidades, levaram para Biarritz o Mundial de surfe deste ano. A modalidade é uma das novidades de Tóquio-2020. Portanto, Paris neutraliza uma possível vantagem da Califórnia e suas praias na disputa.

    Além disso, em caso de acordo entre as candidaturas, a nova modalidade olímpica estaria com sua inclusão praticamente assegurada nos três próximos Jogos.

    A França também vem despontando nos últimos tempos com promoções de vulto no esporte, como o Europeu de futebol no ano passado, o Mundial masculino de handebol deste ano e o Mundial de hóquei no gelo.

    O martelo da escolha da sede de 2024 será batido oficialmente durante sessão do COI em Lima, Peru, em 13 de setembro.

    Apesar disso, a agenda olímpica ganhou um rito especial. No próximo dia 9, o COI vai se manifestar sobre os relatórios de avaliação que fez em visitas às cidades.

    É a chance para um pacto entre Paris e Los Angeles, garantindo a cada uma delas o direito de promover uma Olimpíada. Por enquanto, as campanhas miram em 2024.

    Como não se faz omelete sem quebrar ovos, o COI certamente vai oferecer facilidades às duas candidaturas para a celebração de um acordo.

    Afinal, caso a hipótese se confirme, será um alívio para o comitê proclamar apenas vencedoras no pleito, driblando desgaste com uma perdedora, e deixar a Olimpíada segura em prestigiados pontos do planeta.

    edgard alves

    Jornalista esportivo desde 1971, escreve sobre temas olímpicos. Participou da cobertura de seis Olimpíadas e quatro Pan-Americanos. Escreve às terças.

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