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    Edgard Alves

    Noite em que Mike Tyson virou vampiro completa 20 anos na quarta

    27/06/2017 02h00

    Foi um episódio peculiar do esporte mundial, o da noite de 28 de junho, 20 anos atrás, no ringue do MGM Hotel, em Las Vegas, nos EUA. Apesar das críticas pela deselegância e selvageria de um dos contendores, o renomado Mike Tyson, não se pode negar ter sido aquela uma memorável e inesquecível jornada da história do boxe.

    O controvertido e irrequieto Tyson, no desespero e aflição para recuperar seu cinturão de campeão mundial dos pesos-pesados, arrancou um naco da orelha direita do rival Evander Holyfield e o cuspiu sobre a lona do ringue. Pouco antes, o desafiante já tinha dado uma mordida mais fraca no campeão.

    Um momento surreal, um escândalo que rendeu incontáveis manchetes. A mordida foi apontada como atitude selvagem e antidesportiva gravíssima. Embora sombria, a acachapante surpresa teve repercussão extraordinária pela curiosidade que despertou.

    Tyson foi desclassificado e afastado do boxe. Antes daquele combate, ele estava inconformado por ter perdido a luta anterior para Holyfield, quando o juiz interrompeu o confronto ao perceber que as reações dele, uma vítima castigada e sem forças no 11º assalto, não eram mais adequadas e colocavam sua saúde em perigo.

    Talvez daquela derrota tenha brotado a ansiedade e insensatez na revanche. Holyfield não se abalou com o incidente. Curiosamente, ele também tinha mordido um adversário, Jakey Winters, no ombro direito, havia 17 anos, em luta do torneio Golden Gloves, na qual acabou derrotado.

    Além da manutenção do título diante de Tyson, que valorizava ainda mais seus contratos na sequência da carreira, faturou extras com bom-humor.

    Supermercados venderam um chocolate, em formato de orelha, alusão a atitude voraz registrada naquela luta. Fez ainda propaganda de um molho para churrasco, na qual troçava dizendo que era tão bom que dava vontade de comer a orelha de alguém. E arrematava: "Perguntem ao Tyson".

    No esporte, mordidas não são rotineiras, tampouco novidade. Na Copa do Mundo de futebol, no Brasil, há três anos, o jogador uruguaio Luis Suárez aplicou uma dentada no ombro do italiano Giorgio Chiellini.

    A imagem daquele destempero do uruguaio deu o que falar, afinal era jogo da Copa. O juiz não viu o lance e ele não foi punido instantaneamente, mas, posteriormente, levou gancho e caiu fora da competição. O Uruguai ganhou o jogo por 1 a 0.

    O intempestivo Suárez era reincidente. Jogando pelo Ajax, quatro anos antes, havia mordido o jogador Otman Bakkal, do PSV. E, na Inglaterra, em 2013, atuando pelo Liverpool, cravou os dentes em Ivanovic, do Chelsea.

    Judô, basquete, rúgbi, hóquei, futebol e outros esportes de contato também registram mordidas curiosas, porém com repercussão mais branda. Li sobre várias delas, algumas risíveis.

    Na Espanha, o jogador Francisco Gallardo, do Sevilha, foi suspenso pela Federação Espanhola de Futebol, acusado de violar a dignidade e o decoro esportivo. Ele mordeu o genital de José Reyes, autor de um gol, ao comemorar o feito do colega. O ato, leve e sem danos, parece ter sido fruto de um momento de empolgação, de alegria.

    Fora do esporte, mordidas extravagantes também chamam a atenção. Quem nunca ouviu a lenda do conde Drácula, o mais famoso vampiro da ficção e suas mordidas para chupar o sangue das vítimas.

    Também aqui reportei, tempos atrás, notícia que revelava a suspensão na Inglaterra de uma chefe de escritório, de 40 anos, que mordeu as nádegas de um funcionário de 24 anos. Os gritos do jovem foram tão altos que todos ouviram. Um colega de ambos, procurando amenizar a delicada situação, afirmou que a mordida era uma brincadeira que fugiu do controle. Ainda bem.

    Holyfield deve relembrar nestes dias a efeméride daquele dolorido entrevero com Tyson. Foi marcante para o esporte, mas não a mordida mais famosa de todos os tempos.

    Na passagem bíblica que fala do fruto proibido, produzido pela árvore da ciência do bem e do mal, com Adão e Eva, o ato de morder é insuperável. Instigada por uma serpente, Eva teria mordido o fruto e oferecido a Adão, que aceitou. Mas essa é outra discussão.

    edgard alves

    Jornalista esportivo desde 1971, escreve sobre temas olímpicos. Participou da cobertura de seis Olimpíadas e quatro Pan-Americanos. Escreve às terças.

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