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    Edgard Alves

    Escândalos põem o Brasil de joelhos no mundo do esporte

    10/10/2017 02h00

    Ian Cheibub/Folhapress
    RIO DSE JANEIRO , RJ , 05.10.2017 , BRASIL , A Polícia Federal prende Presidente e ex-diretor do Comitê Olímpico, Carlos Arthur Nuzman e Leonardo Gryner.Crédito Ian Cheibub / Folhapress ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
    O presidente do COB e do Rio-2016, Carlos Arthur Nuzman, chega à Polícia Federal

    A suspeita da compra de votos na escolha do Rio para sede dos Jogos Olímpicos de 2016 coloca o esporte do Brasil de joelhos diante da comunidade esportiva mundial. É uma espécie de bomba, com efeito retardado, que, doravante, vai fustigar o esporte nacional. Impossível prever por quanto tempo, talvez por décadas.

    Esse é um dos males das apontadas patifarias perpetradas pela cartolagem brasileira, aqui e no exterior, e pela corrupção na governança do país.

    A prisão preventiva do presidente do COB (Comitê Olímpico do Brasil) e do comitê organizador da Olimpíada do Rio, Carlos Arthur Nuzman, por suspeita de participar da tramoia olímpica, é um trágico capítulo de novela envenenada por outros crimes.

    O dirigente diz que vai provar a sua inocência. Mesmo que o faça com êxito, certamente muitas interrogações ficarão sem respostas satisfatórias diante de evidências.

    O fato é que o episódio olímpico galgou o noticiário internacional, ampliando um quadro de escândalos na área esportiva que já era estrelado por cartolas brasileiros como João Havelange (morto em 2016), Ricardo Teixeira e José Maria Marin.

    Todos eles envolvidos em maracutaias relacionadas ao futebol. Junte-se ao trio o atual presidente da CBF, Marco Polo Del Nero, que não viaja ao exterior para evitar o risco de prisão. A denúncia contra Nuzman, há 22 anos no comando dos esportes olímpicos no Brasil e outro tanto no vôlei nacional, apenas completa o enredo.

    A partir de agora, mais ainda do que antes, certamente dirigentes brasileiros serão olhados com desdém no exterior. Idem para suas propostas em eventos da área. O reflexo da constrangedora situação pode atingir também os atletas.

    O caso recente da Rússia, enrolada em escândalo de doping sem precedentes, é uma mostra. Certamente, muitos cartolas e atletas nada tiveram a ver com as maracutaias, mas a má fama ganhou espaço, até mesmo por preconceito ou interesses corporativos de instituições esportivas rivais.

    Não se deve cair na esparrela de achar que os cartolas brasileiros são corruptos e os de fora, honestos. Lá como cá, há bons e maus dirigentes, inclusive no todo-poderoso COI (Comitê Olímpico Internacional) e na dominante Fifa (Federação Internacional de Futebol). Complicado é separar o joio do trigo, ainda mais com a falta de transparência e os interesses econômicos bilionários que movem os bastidores dos esportes.

    Para os brasileiros em geral, o momento não é de comemoração. Pelo contrário, é de preocupação. Não bastassem os dissabores e a desbragada corrupção de políticos e empresários, com suspeitas até do envolvimento de ocupantes da Presidência da República (Lula e Temer), o esporte acaba atirado em semelhante vala.

    Superada a fase de organização da Olimpíada, com a economia nacional escorada em precárias boias para não afogar, o esporte brasileiro sofre com o impacto da crise. É certo que deveria ter procurado há tempos a iniciativa privada como fonte de recursos para sua sobrevivência.

    Entretanto, optou pela mamadeira estatal. Agora, mal-afamado e desmascarado, e coberto pela onda da falta de credibilidade, fica ainda mais difícil para o esporte encontrar respaldo no mercado. Nada é impossível, mas os obstáculos exigem árduo trabalho, que antes parecia mais ameno.

    Para encontrar saída, é essencial uma abertura geral, que imponha política de transparência, trabalho e criatividade. São imprescindíveis mudanças nas leis esportivas vigentes na busca de um caminho mais democrático e com amplas oportunidades de participação.

    Trocar seis por meia dúzia, como costuma ocorrer em momentos de desconforto, não produz solução. Isso sem contar o risco de uma troca por cinco, quatro ou menos ainda. O momento é delicado e sensível, mas uma inacreditável ocasião para o esporte mudar a sua cara.

    edgard alves

    Jornalista esportivo desde 1971, escreve sobre temas olímpicos. Participou da cobertura de seis Olimpíadas e quatro Pan-Americanos. Escreve às terças.

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