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    Edgard Alves

    Basquete do Brasil terá de passar por um longo calvário para ir ao Mundial

    21/11/2017 02h00

    A seleção brasileira masculina de basquete inicia nesta semana uma difícil escalada rumo ao Mundial da modalidade. É uma incógnita se vai chegar na Copa da China, em 2019. O caminho das eliminatórias está repleto de novidades.

    O sistema de classificação mudou, alongando-se agora por um período de cerca de um ano e meio. Em contrapartida, o número de vagas aumentou de 24 para 32 times.

    As eliminatórias passam a ter "datas Fiba" e estão começando. O Brasil joga contra o Chile nesta sexta (24), em Santiago, e contra a Venezuela, dia 27, no Rio. Outras rodadas foram programadas para fevereiro, junho, setembro e novembro de 2018 e fevereiro de 2019.

    Classificam-se, além da China por ser a sede, cinco países da África, sete das Américas, sete da Ásia e 12 da Europa. O Mundial chinês foi atrasado em um ano para evitar a concorrência da Copa do Mundo de Futebol. Depois da China retoma o ciclo de disputas a cada quatro anos.

    O Brasil inicialmente ficou fora do último Mundial, em 2014, e só acabou incluído na competição ao pagar por um convite da Fiba (Federação Internacional de Basquete). A oferta de vaga mediante pagamento era oficial e anunciada antecipadamente para que interessados se manifestassem.

    A CBB (Confederação Brasileira de Basquete) não perdeu tempo, ganhou a disputa na boca do caixa. Afinal, não queria ver o Brasil alijado do Mundial pela primeira vez na história do evento. Divide essa glória com os EUA, como os únicos participantes de todos os campeonatos desde o inaugural da série em 1950, na Argentina.

    Nessa caminhada arrebatou dois títulos de campeão (em 1959 e 1962), duas medalhas de prata (1954 e 1970) e duas outras de bronze (1967 e 1978). Projetou-se também na Olimpíada, com medalhas de bronze em Londres-1948, Roma-1960 e Tóquio-1964.

    Foi a época de pouco dinheiro e muito prestígio internacional, que perdurou pelo menos por outras duas décadas. Depois despencou feio. Nos Mundiais não foi mais o mesmo e chegou a ficar fora de três Olimpíadas consecutivas (Sydney-2000, Atenas-2004 e Pequim-2008).

    Criou boas expectativas ao retornar aos Jogos Olímpicos, em Londres-2012, quando terminou em quinto. A seguir, uma queda brusca e o vexame com a inédita compra da vaga, mesmo tendo terminado a competição em sexto.

    Aquele gasto foi insuportável para a CBB que já enfrentava caótica situação financeira, gerada por péssimas administrações da entidade.

    Também tropeçou na tentativa de ficar com uma das vagas da Olimpíada-2016, só assegurada posteriormente pela condição de país-sede. Nos Jogos do Rio, não passou da primeira fase.

    Nesse cenário, sem prestígio na quadra, em situação financeira delicada e ainda devendo a compra da vaga, a fragilidade ficou evidente. A Fiba, defendendo seus interesses, interveio. Suspendeu o basquete brasileiro, que ficou impedido de participar de eventos da entidade.

    Ainda enrolada na falta de recursos, mas sob nova direção (o ex-jogador e hoje empresário Guy Peixoto assumiu a presidência), a CBB tenta dar a volta por cima. A situação, porém, continua crítica.

    Nas Américas, as eliminatórias contam com 16 seleções, divididas em quatro grupos. Os três melhores de cada grupo seguem na disputa, reagrupados em duas chaves, que classificam para o Mundial os três primeiros de cada uma delas, mais o melhor quarto colocado. Nas demais regiões, o sistema é semelhante.

    Esse novo modelo foi idealizado pela Fiba sob a alegação de colocar as seleções nacionais mais perto de seus torcedores, com jogos de ida e volta. O objetivo real é popularizar o esporte.

    Essa expansão, no entanto, nunca testada no basquete, tem coincidência de datas com disputas locais. Por isso as seleções jogarão desfalcadas. Atletas da NBA, a poderosa liga profissional da América do Norte, estão fora no momento. Vários da Euroliga foram convocados, mas barrados pelos clubes.

    O projeto encontra barreiras neste início de sua implantação. As seleções devem disputar parte das eliminatórias com um time. Só em etapas decisivas e na Copa chamarão os reforços? É um impasse complicado.

    O Brasil, que até a Olimpíada do Rio era dirigido pelo argentino Rubén Magnano, há um mês passou a ser comandado pelo croata Aleksandar Petrovic –ex-armador de 1979 a 1991–, treinador há 26 anos e que esteve à frente das seleções da Croácia e da Bósnia e Herzegovina. Ele é irmão de Drazen Petrovic, astro do basquete europeu e da NBA, morto num acidente de carro em 1993.

    Anderson Varejão é destaque do time, que tem ainda Vítor Benite, Fulvio de Assis, Yago dos Santos, Alex Garcia, Antonio Jr., Leonardo Meindl, Jhonatan Luz, Lucas Silva, Rafael Hettsheimeir e Lucas Mariano.

    O calvário para o Mundial ficou mais longo. E garantir uma vaga na China representará apenas o primeiro de muitos passos que o basquete brasileiro precisa para recuperar seu prestígio. Do jeito que está não pode ficar. Haja paciência!

    edgard alves

    Jornalista esportivo desde 1971, escreve sobre temas olímpicos. Participou da cobertura de seis Olimpíadas e quatro Pan-Americanos. Escreve às terças.

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