BRASÍLIA - A discussão sobre a reforma da Previdência torna urgente olhar para outra questão: a quantidade de brasileiros que não guardam recursos para a aposentadoria.

Basta questionar parentes ou colegas de trabalho para verificar que são poucos os que possuem uma aplicação financeira com esse objetivo. Também não é difícil constatar a dificuldade de muitos em compreender as diferenças entre fundo de investimento comum, plano de previdência e títulos públicos.

As ações do governo em relação à reforma não incluíram incentivos para estimular a aplicação de recursos por prazos realmente longos.

O sistema atual de tributação já privilegia quem mantém uma aplicação em renda fixa por apenas dois anos com IR de 15%. Em planos de previdência, a tabela regressiva prevê 10% após dez anos. Não há diferença para prazos maiores.

Nos casos em que há isenção fiscal, em geral, não há vinculação entre benefício e tempo de aplicação.

Os dados do Tesouro Direto mostram que apenas 17% das aplicações estão em títulos com vencimento acima de dez anos, o que inclui papéis que vencem entre 2027 e 2050.

Seria interessante oferecer tributação diferenciada para quem aplica, por exemplo, nos dois títulos que garantem hoje correção da inflação mais 6% ao ano até 2035 e 2050. Obviamente compensada pelo aumento da alíquota para prazos menores.

A queda dos juros, somada à reforma, tende a privilegiar aqueles que começarem a juntar dinheiro o quanto antes para aproveitar as taxas ainda elevadas, o que fará muita diferença daqui 20 ou 30 anos.

É comum a explicação de que já é difícil pagar as contas do dia a dia e não sobra muito para poupar. Essa é, no entanto, a mesma argumentação de pessoas que não veem problema em serem perdulárias.

Afinal, quem tem como "sonho" ou meta para 2017 fazer um plano de previdência ou já pensou em "se dar de presente" um título público?

eduardo cucolo

É secretário de Redação de Edição da Sucursal Brasília. Formado em jornalismo, escreve sobre economia e política desde 2000.