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    Eduardo Cucolo

    Delação da Odebrecht dá nome aos bois

    14/04/2017 02h00

    Paulo Lisboa/Brazil Photo Press/Folhapress
    Marcelo Odebrecht, preso na Operação Lava Jato, chega à sede da Justiça Federal, em Curitiba (PR), onde presta depoimento nesta sexta
    Marcelo Odebrecht, preso na Operação Lava Jato, chega à sede da Justiça Federal, em Curitiba (PR)

    BRASÍLIA - "Garrastazu, Stalin, Erasmo Dias, Franco, Lindomar Castilho, Nixon, Delfim, Ronaldo Bôscoli..." Esse era o primeiro verso da música "Nome aos Bois", composição dos titãs Nando Reis, Marcelo Fromer, Arnaldo Antunes e Tony Bellotto lançada há 30 anos.

    Eram 34 nomes entre genocidas, ditadores e pessoas das quais os autores simplesmente não gostavam.

    Nesta semana, depois de uma longa espera, foram divulgados os vídeos nos quais os delatores da empreiteira Odebrecht também dão nome aos bois. Mais de duas dezenas deles.

    Como disse o deputado Paulinho da Força (SD-SP) ao se manifestar sobre sua aparição na lista, "quem não apareceu está sendo considerado desprestigiado."

    Por essa lógica, pode-se separar os bois de acordo com a fome ou "prestígio" de cada um. A turma dos mil e a dos milhões. A do caixa dois e a da propina. E, não menos importante, a turma dos que negam (como o governador Renan Filho) e a daqueles do quero ver provar (como o senador Renan Pai).

    As provas devem depender ainda da colaboração de alguns dos listados. Alguém que pode "falar coisa que não queria nem devia", para usar a definição de delação dada pela ex-presidente Dilma Rousseff.

    O ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB), por exemplo, ameaça explodir a República. O ex-ministro Antonio Palocci (PT) insinua que pode mandar pelos ares o PT e o "PIB" (leia-se bancos e grandes empresas).
    Com isso, muitas pessoas hoje "desprestigiadas" poderiam engordar a lista do Supremo ou de vários outras instâncias do Judiciário.

    No conto "Conversa de Bois", Guimarães Rosa escreve que, se todos os bois na carroça corressem ao mesmo tempo, aqueles que estão "na beirada", "cai-não-cai, na beiradinha", rolariam para o chão.

    Emílio Odebrecht disse que "tudo o que está acontecendo era uma coisa normal" que se fazia há 30 anos. Conversa de boi.

    eduardo cucolo

    É secretário de Redação de Edição da Sucursal Brasília. Formado em jornalismo, escreve sobre economia e política desde 2000.

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