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    Eduardo Scolese

    O barranco de Dilma

    01/02/2016 02h00

    SÃO PAULO - No auge da crise do mensalão, em 2005, um episódio simbólico presenciado por poucos mostrou a disposição de um acuado presidente para sair do atoleiro e tocar seu governo diante, apesar da enxurrada diária de denúncias.

    Lula estava em seu segundo ano de governo e, após um período enclausurado no terceiro andar do Planalto, retomava as viagens e buscava apoio em suas bases eleitorais.

    Esse tal episódio ocorreu em visita a canteiros de obra da duplicação da BR-101, no Rio Grande do Sul.

    No acostamento da rodovia, Lula estava no pé de um barranco. Cerca de 20 metros acima, lá no alto, pessoas gritavam seu nome.

    O presidente não pensou duas vezes. Botou o pé na lama, escalou o morro e cumprimentou os simpatizantes, diante de tensos seguranças que mal acreditavam no que viam. Naquele dia, Lula ainda ajudou um operário a manobrar uma máquina perfuradora, apertando botões e ensaiando manobras.

    Tudo fazia parte de uma estratégia para tentar demonstrar ao país que o então novo governo não seguiria refém das denúncias e da oposição. Deu certo, já que o petista foi reeleito sem grandes sustos no ano seguinte.

    Hoje, 11 anos depois e também na defensiva, é Dilma, o poste de Lula, quem deveria "escalar seu morro" e começar de fato seu segundo mandato, para ao menos tentar justificar o voto de 54,5 milhões de brasileiros.

    Viajar por um país que ela mal conhece é sempre uma opção saudável. Poderia ouvir queixas diretamente da população e depender menos de relatos de ministros despreparados.

    Se a presidente permite uma sugestão, poderia dar um susto em seus seguranças, caprichar no repelente e determinar uma viagem urgente a Pernambuco. Lá, entraria nas casas de mães desorientadas e desassistidas com seus bebês com microcefalia e poderia explicar a elas por que está "bastante" satisfeita com o trabalho de seu ministro da Saúde.

    eduardo scolese

    É editor do núcleo de Cidades.

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