SÃO PAULO - Um dos papéis relevantes da imprensa é o de fiscalizar qualquer tipo de governo. Não interessa se é municipal, estadual ou federal, do partido A, B ou C.
Na base disso, está a obrigação de duvidar de informações oficiais. Jornalistas se mobilizam, conversam com especialistas, fuçam bancos de dados e saem às ruas atrás de exemplos que confirmem ou desmintam balanços usados como propaganda pessoal ou eleitoral.
Em SP, porém, essa tarefa tem sido prejudicada por manobras e canetadas do governador Geraldo Alckmin, do PSDB, e do secretário Alexandre de Moraes, da Segurança Pública. Nas últimas semanas, novas decisões reforçaram o cadeado da caixa-preta das estatísticas estaduais.
Primeiro a gestão tucana deu de ombros para a Lei de Acesso à Informação e negou novos pedidos da Folha para ver a lista de pessoas assassinadas na capital. Em seguida, após idas e vindas, avisou que imprensa e pesquisadores somente terão acesso aos registros de ocorrências policiais que passarem pelo censor do Palácio dos Bandeirantes.
Enquanto isso, segue em xeque o anúncio oficial de que o Estado fechou 2015 com a menor taxa de homicídios em duas décadas. O balanço está aí, mas sem nenhuma checagem. Acredite nele, se quiser.
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Em 1995, o então desconhecido promotor Fernando Capez ganhou holofotes em sua cruzada para extinguir as torcidas organizadas de SP. À época, ele desprezou o argumento dos dirigentes das uniformizadas de que seria impossível para eles conter ações violentas e isoladas de seus associados.
Agora, na condição de presidente da Assembleia e de investigado na máfia da merenda, ele usa justificativa semelhante para se afastar das denúncias. Diz que "é fisicamente impossível" saber o que seus próprios assessores fazem nas suas costas.
É editor do núcleo de Cidades.