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    Eduardo Giannetti

    Eduardo Campos

    15/08/2014 02h00

    O Brasil está de luto. Liderança não se improvisa: é obra do preparo e da dedicação infatigável, mas é também dom da natureza –atributo de pessoas que parecem nascidas e talhadas a exercê-la. A morte medonha de Eduardo Campos priva nossa vida pública de uma excepcional vocação de liderança. A perda se fará sentir por muitas gerações de brasileiros. O vazio é imenso.

    Conheci Eduardo Campos há pouco menos de um ano. O contato veio por intermédio de Marina Silva, com quem trabalhei na campanha de 2010 e de quem aceitei o desafio de colaborar na elaboração do programa da Rede Sustentabilidade para as eleições deste ano.

    Confesso que o gesto ousado de Marina ao surpreender a todos e aliar-se a Eduardo Campos após a interdição da Rede deixou-me de início hesitante. Tinha dúvidas sobre a natureza da aliança e sobre o real compromisso de Eduardo com os valores e propostas centrais do nosso programa. Preferi observar à distância e procurei me inteirar da situação antes de qualquer decisão.

    A habilidade e o magnetismo pessoal de Eduardo me causaram forte impressão desde a primeira vez que presenciei (anonimamente) uma palestra sua em São Paulo. Constatei o seu efeito em mim e na expressão dos que me rodeavam na plateia. Logo me dei conta de que estava diante de um talento persuasivo de rara qualidade na nossa cena política. Senti vontade de conhecê-lo.

    A aproximação ocorreu de forma paulatina. À medida que se estreitava o convívio, em reuniões de trabalho, conversas esporádicas e participações conjuntas em eventos, passei a admirar sua inteligência, disposição ao diálogo e capacidade de trabalho. Aos poucos se me foi revelando a generosa pessoa humana –lúcida, delicada e serena– que lastreava sua atuação como homem público.

    As dúvidas se dissiparam e firmou-se em mim a convicção de que a aliança Eduardo-Marina exprimia um fato genuinamente novo em nossa combalida democracia –uma coalizão alicerçada em princípios compartilhados e apta a promover corajosa depuração de nossas práticas políticas. Juntei-me ao time.

    A irrupção do absurdo em nossas vidas abre uma fenda que nada sacia. Como dar conta da morte brutal de um jovem pai amoroso e amigo leal? Como explicar a perda de um líder na plenitude do vigor e talento? Onde o sentido?

    Frágil e efêmera criatura, o ser humano sucumbe ante o mistério que o exaspera. Mas se o mundo em que nos foi dado existir é opaco e refratário à nossa fome de sentido, só um caminho nos resta: lutar no limite de nossas forças para que ele adquira sentido.

    Que o exemplo de luta, doação e amor ao Brasil de Eduardo Campos nos dê força de seguir adiante e ilumine os nossos passos.

    Eduardo Giannetti

    Escreveu até dezembro de 2014

    É formado em economia e em ciências sociais pela USP e PhD em Economia pela Universidade de Cambridge. É autor de artigos e livros, entre eles "Vícios privados, benefícios públicos?"

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