No início dos anos 1980, a chegada do etanol às bombas de combustível indicava que uma revolução estava a caminho. Impulsionada por incentivos fiscais, a indústria dizia ao consumidor: "Seu próximo carro será movido a álcool".
Após 20 anos, seis presidentes, seis moedas e idas e vindas do Proálcool, surgiu o carro bicombustível. Os fabricantes repetiram o mesmo mantra, ligeiramente modificado: "Seu próximo carro será flex".
O relógio está prestes a completar mais um ciclo, apressado por normas cada vez mais rigorosas de controle de emissões.
Os motores precisam diminuir para poluir menos, enquanto os carros ficam mais pesados devido aos novos equipamentos de segurança e de conforto. Para resolver essa equação, vem aí mais um bordão da indústria: "Seu próximo carro será turbo".
A tecnologia que nasceu junto com o automóvel -Gottlieb Daimler e Carl Benz iniciaram os estudos em paralelo ao desenvolvimento do pioneiro Benz Patent-Motorwagen (1885)- em breve estará presente nos carros mais vendidos do país.
Não falo apenas de modelos de luxo ou esportivos, cujos emplacamentos têm crescido no Brasil. Refiro-me também aos compactos com adesivos de famílias sorridentes que vemos todos os dias nas ruas.
Serão automóveis corriqueiros, usuais, com acabamento simples e calotas de plástico. Seus anúncios terão música alta e cores vivas.
Assim como aconteceu com o etanol e o flex, os compactos turbinados serão recebidos com desconfiança pelo grande público. Depois, se tornarão bons de revenda. "Mercado rejeita usados sem turbo", dirão as chamadas dos jornais.
Passados mais alguns anos, algo novo irá substituir ou simplesmente aumentar a eficiência do turbo. Eletricidade? Hidrogênio? Sistemas híbridos? Um pouco de cada coisa? Ainda não dá para prever, mas a indústria manterá o mesmo mote: "Seu próximo carro será...".
Carioca, é especializado no setor automotivo, que cobre desde 1999. Escreve aos domingos, mensalmente.