Em um passado recente, a iminência de mudanças na alíquota do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) gerava uma corrida às lojas. Estoques desapareciam, vendedores ganhavam comissões polpudas e a roda girava. Agora, não mais.
A Copa ajuda a justificar as vendas em queda, mas não é o único motivo. O mercado acomodou-se, e o vai e vem das taxas já foi incorporado pelo público. Não causa mais comoção.
Haverá cerca de 15 lançamentos relevantes no segundo semestre, mas apenas a nova geração do Ford Ka e o Renault Sandero remodelado têm potencial para mudar os rumos. Os outros são produtos de menor volume.
Certamente teremos um novo ciclo de crescimento em um futuro próximo, mas não como antes. O sonho do carro novo já foi realizado por muitos nos últimos dez anos, e outros tantos vivem a ressaca do crédito fácil a juros monumentais.
Comprava-se sem o devido cálculo e, meses depois, a conta de vários consumidores não fechava. A primeira parcela em atraso é sempre seguida de dor na consciência, mas, daí por diante, a falta de pagamento torna-se corriqueira.
Se não quitar a conta da luz, a energia é cortada. Se não quitar o boleto do carro, o nome vai para a lista negra dos serviços de proteção ao crédito e o veículo continua rodando por meses.
Hoje, os bancos que outrora abusaram das taxas sob a justificativa de atender a "perfis de risco" estão menos permissivos. Porém, o público cujo perfil é considerado bom não tem demonstrado interesse em comprar carros zero-quilômetro, pois foram eles os responsáveis pela movimentação recente do setor. Portanto, possuem veículos ainda novos.
Todo esse movimento não deve ser visto como crise, mas como amadurecimento. Quando for conciliado ao equilíbrio da oferta de crédito e à revisão definitiva da carga tributária, teremos um setor automotivo saudável.
Carioca, é especializado no setor automotivo, que cobre desde 1999. Escreve aos domingos, mensalmente.