Três supermotos cruzam a Carvalho Pinto em direção a Campos do Jordão em uma manhã de sábado. Exímios pilotos as conduzem, como a habilidade em ultrapassar carros e driblar radares demonstra.
Devem estar a mais de 180 km/h. São borrões zunindo entre os carros. Alguns segundos depois, surge um quarto elemento: um motociclista sobre uma pseudoesportiva de 250 cc.
Seu piloto faz o que pode para acompanhar os outros, como um Dom Quixote a achar que seu Rocinante é um puro-sangue.
Os donos das máquinas poderosas -que custam mais de R$ 60 mil- usam jaquetas e calças que parecem exoesqueletos. O quarto elemento está com um casaco simples, de material sintético e esvoaçante.
A trupe se reúne em um pedágio. Trocam moedas entre si para pagar a tarifa. Cruzam a cancela e somem. Exceto o quarto elemento. Apesar do esforço, ele sempre fica para trás.
Pode-se pensar que todos os motociclistas em questão são típicos tolos motorizados, que descarregam seus hormônios e tensões entre os carros. Desses, o pior seria o quarto elemento, que tenta fazer as mesmas coisas com um equipamento inferior.
Não. Todos têm o mesmo grau de estupidez e egoísmo, pois não desrespeitam só normas de trânsito.
Ferem os limites do bom senso, pois dividem o espaço com outros veículos, dirigidos por pessoas com diferentes graus de habilidade. Portanto, sujeitos a erros como trocar de faixa sem a devida atenção.
Não há controle sobre essas situações. Pode-se confiar no treino e na habilidade quando os outros estão nivelados. É o que ocorre numa corrida, mas nem isso a torna isenta de acidente ou falha mecânica.
Superpilotos rodam ao lado dos iniciantes e dos idosos com reflexos mais lentos. Esses motoristas podem ter uma reação diferente da esperada pelos motociclistas, que talvez consigam se desvencilhar do problema graças ao poderio de suas bikes. Mas depois virá o quarto elemento. Terá ele a mesma sorte?
Carioca, é especializado no setor automotivo, que cobre desde 1999. Escreve aos domingos, mensalmente.