Tente recordar quais eram os carros que estavam na garagem de pessoas próximas a você até meados dos anos 1980. O Fusca de um pai ou tio certamente aparecerá na lista. Haverá também o parente abonado que tinha um Opala cupê, coisa fina, ou a prima corajosa que apostou em um 147 logo após a Fiat começar a produzir no Brasil.
Corcel? Boa lembrança. O interior com forração de vinil e seu cheiro sintético, inconfundível. As memórias trarão alguns carrões com motor V8, os mesmos que ficaram abandonados por aí quando a crise do petróleo estourou. Dart e Galaxie, aqueles beberrões.
Agora pense no futuro: como será esse mesmo exercício daqui a 30 anos? o que as crianças de hoje dirão dos carros que eram dirigidos por pessoas de seu convívio?
Haverá uma diferença: a pluralidade de marcas. As memórias de quem tem por volta de 40 anos se restringem a carros das "quatro grandes": Chevrolet, Fiat, Ford e VW. Teremos um ou outro penetra nessas lembranças, como modelos Chrysler ou algum carro antigo.
Já os adultos do futuro falarão do Peugeot do tio, do Mercedes do avô que morava na serra, do Toyota da vizinha. Na garagem de casa, terão visto tantos automóveis diferentes a entrar e a sair que, a menos que sejam aficionados pelo tema, sequer lembrarão de todos os modelos.
Isso é resultado do que aconteceu nos últimos anos, com a abertura aos importados e a chegada de novas empresas no Brasil.
Estudo feito pela consultoria Jato Dynamics mostra que, juntas, as quatro maiores montadoras de automóveis do país perderam 16 pontos percentuais de participação nos últimos dez anos. A perda ficará ainda maior até o fim de 2017, quando fábricas de novas marcas estarão produzindo a todo vapor.
Esse olhar histórico mostra que, com todos os altos e baixos, o Brasil tornou-se um dos países com mais marcas disponíveis ao consumidor. Haja memória.
Carioca, é especializado no setor automotivo, que cobre desde 1999. Escreve aos domingos, mensalmente.