Os estoques de veículos chegaram a 42 dias no fim de novembro. Grosso modo, isso significa que, se todas as montadoras interrompessem a produção agora, ainda assim haveria carros disponíveis para pronta entrega até o fim de janeiro, descontados os feriados do período.
Portanto, é hora de passar o chapéu e correr atrás de uma solução custosa às fabricantes: as vendas diretas a empresas.
Oferecer frotas gigantescas a pessoas jurídicas é parte do jogo. Carro no pátio gera despesas, deprecia, faz a máquina parar de rodar. Porém, uma locadora que compra 5.000 carros de uma só vez entra no negócio com poder de barganha, e tem gente grande levando lotes inteiros a preço de custo.
Isso desequilibra a cadeia. Os carros comercializados a valor de fim de feira logo voltam ao mercado como usados, sendo revendidos com baixa quilometragem e, muitas vezes, carregando margem de lucro superior à praticada pela montadora no primeiro negócio. Isso ajuda a explicar o porquê de o setor de carros seminovos estar crescendo, enquanto os novos perdem mercado.
Nesse ciclo, nem sempre vender mais significa lucrar mais. Números inflados por 10 mil carros entregues a empresas podem representar menor rentabilidade do que metade disso licenciada no varejo.
De acordo com a Fenabrave (Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores), 30,8% dos veículos comercializados em novembro foram parar em garagens com CNPJ em vez de CPF. No caso do VW Gol, por exemplo, metade das 12 mil unidades vendidas foram negociadas com pessoas jurídicas.
Para as montadoras, felicidade é quando os frotistas precisam renovar seus automóveis e partem para cotar preços, mais dispostos a abrir o cofre. No momento atual, as fabricantes precisam vender e os empresários evitam comprar, à espera dos novos rumos da economia.
O chapéu passa, mas volta com poucos tostões.
Carioca, é especializado no setor automotivo, que cobre desde 1999. Escreve aos domingos, mensalmente.