Entre tantos dados negativos divulgados pelo setor automotivo no início deste ano, dois merecem maior atenção.
O primeiro é a queda na produção, que fez a indústria retornar ao nível de 2006. O outro é a redução nos postos de trabalho, que remonta ao número de empregados em meados de 2010.
Uma informação está ligada à outra, e permite concluir que há muitos outros operários em risco.
No fim de 2006, as fabricantes de veículos e maquinário agrícola empregavam 106,3 mil pessoas. Em dezembro de 2010, esse contingente havia chegado a 136,1 mil. Os números são da Anfavea, associação que reúne as fabricantes de veículos.
Pelas contas da entidade, cerca de 15 mil funcionários foram cortados ao longo de 2015, que terminou com 129,8 mil empregados.
A dura matemática mostra que há gente demais para carros de menos nas linhas de produção. Se não ocorrer um milagre da multiplicação, as demissões continuarão a ocorrer ao longo de 2016. E não será um PPE (Plano de Proteção ao Emprego) que irá evitar isso.
Na última semana, a presidente Dilma Rousseff reiterou que a maior preocupação do governo no momento é a elevação da taxa de desemprego no país, que chegou a 9% no terceiro trimestre de 2015.
O setor automotivo está entre os que mais contribuem para a piora do índice. Além dos cortes nas montadoras, o efeito da queda nas vendas é sentido nos fornecedores de componentes e nas concessionárias.
A presidente não quer demissões e as fábricas não querem demitir -custa caro preparar um operário para depois ter de colocá-lo na rua.
Mas se antes bastava reduzir tributos para fazer a roda girar, agora não há mais solução fácil. O governo não pode abrir mão de receita para fomentar o consumo, nem tem dinheiro para bancar um plano de recuperação.
Os envolvidos sabem que algo precisa ser feito, mas ainda não sabem o quê.
Carioca, é especializado no setor automotivo, que cobre desde 1999. Escreve aos domingos, mensalmente.