A estratégia é arriscada: em vez de apresentar o carro aos poucos, como fez com a picape Toro, a Fiat decidiu inundar as lojas com um novo compacto. Sem alarde prévio, o Mobi estará em concessionárias Brasil afora no próximo sábado (17).
A marca vasculhou suas prateleiras para desenvolver o hatch. Sabe-se que motor virá das linhas Uno e Palio, o já conhecido 1.0 de 76 cv. As primeiras imagens, limitadas a flagrantes durante testes, mostram que a tampa traseira será de vidro.
As dimensões diminutas combinam com a proposta de carro urbano, tendência em alta há tempos na Europa, mas que ainda não fez eco no Brasil. Há uma explicação.
Com o incentivo abrupto aos carros populares, no início dos anos 1990, as montadoras tiveram que adaptar projetos já existentes. Daí vieram o Escort Hobby, o Chevette Junior, o Gol 1000 e o Uno Mille. Veículos cujos primeiros rabiscos surgiram na década de 1970 e que eram então relançados, travestidos de futuro da indústria.
Enquanto isso, os europeus valorizavam os subcompactos, bem menores que as alternativas nacionais. Um deles foi feito no Brasil, o primeiro Ford Ka, que não fez o sucesso esperado. Era pequeno demais para ser o único carro da família.
Hoje, os representantes desse segmento são o Volkswagen Up! e o Kia Picanto. Ambos oferecem praticidade invejável para o uso urbano, mas não têm no preço seu maior apelo: custam o mesmo que concorrentes de maior porte, como o Renault Sandero e o Chevrolet Classic.
Esse é o ponto do Mobi. Se a Fiat atender às expectativas e conseguir lançá-lo com preço (bem) abaixo de R$ 30 mil, a concorrência terá de correr atrás e apressar planos. Seria bom para a marca italiana, que perdeu 37% de participação no país entre 2015 e 2014.
Mas se custar caro, será mais um a patinar no mercado. O público-alvo está com outros problemas importantes para resolver, não vai dar atenção a mais um carro pequeno.
Carioca, é especializado no setor automotivo, que cobre desde 1999. Escreve aos domingos, mensalmente.