o motociclista era habilidoso. Conseguia guiar sua CG 150 sem colocar as mãos no guidão, o que fez por alguns segundos.
Foi capaz até de, com movimentos de pernas e de quadril, acompanhar curvas pouco acentuadas enquanto esticava os braços em movimentos de alongamento.
Seria admirado se estivesse em uma pista fechada, mostrando seus dotes ciclísticos em total segurança. O problema é que a cena aconteceu na manhã de uma terça-feira ensolarada, em meio aos carros e ônibus que circulavam pela avenida 23 de Maio, uma das mais movimentadas de São Paulo.
Se um dos automóveis que rodavam ao seu redor mudasse de rumo ou freasse repentinamente, o tempo necessário para alcançar o guidão e os manetes de freio poderia ser uma sentença de morte.
Pelo baú instalado na parte de trás da motocicleta, ficou fácil concluir que o piloto estava trabalhando. A habilidade adquirida é resultado de horas a fio no lombo de sua CG, cumprindo apertados prazos de entrega. A prática leva à perfeição e também ao relaxamento.
Quando se está aprendendo a dirigir um veículo, não há concentração que baste diante do monstro de uma avenida movimentada. Os olhos permanecem fixos adiante, e vez por outra percorrem os espelhos.
O tempo passa, vem a experiência e a autoconfiança. Quem antes não tirava os olhos da pista agora começa a mexer no sistema de som enquanto o carro está a 80 km/h. Os mais "ousados" teclam mensagens no celular em rodovias, invadindo a faixa ao lado sem perceber o que se passa no mundo que o cerca.
Se o distraído ao volante se encontrar com o motociclista que se alonga na avenida, temos o enredo de uma tragédia previsível.
Segundo a CET, metade dos feridos nos acidentes de trânsito em São Paulo estavam em motos -que representam apenas 13% da frota paulistana. Experiência e imprudência não podem dividir espaço.
Carioca, é especializado no setor automotivo, que cobre desde 1999. Escreve aos domingos, mensalmente.