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    Eduardo Sodré

    Ordenação urbana pode contribuir para a venda de automóveis

    07/08/2016 02h00

    As montadoras esperam a nova política industrial do governo, um propenso projeto de longo prazo e fundamental para a retomada do setor. Os planos envolvem contas e palavras difíceis, coisa de engenheiro ou matemático. Envolvem também o que não depende do chão de fábrica, e aí está o desafio.

    Planos que incentivam a venda de carros foram aplicados ao longo de décadas. Ajudaram a fortalecer o setor e a gerar empregos, mas são ao mesmo tempo causa e consequência do atraso.

    Governos sempre afrouxaram para que empresas não perdessem rentabilidade ao passar por crises, prorrogando prazos para implementação de legislações ambientais mais rígidas ou evitando endurecer as normas de segurança.

    A consequência: o consumidor passou anos tendo carros precários à disposição (em relação a mercados mais robustos), ao mesmo tempo em que o mundo começava a repensar o automóvel.

    Enquanto sistemas de compartilhamento e veículos que não emitem poluentes começam a mostrar que há um futuro viável para a indústria da mobilidade individual, o Brasil vive a primeira fase da discussão sobre redução de emissões.

    Parece que o país não percebeu que comprar carro por necessidade está saindo de moda. O consumidor quer eficiência, seja de trem, ônibus, bicicleta, skate ou a pé.

    Ordenação urbana pode contribuir para venda de carros, até mesmo com restrições à circulação e imposto maior para quem polui mais.

    Ao trocar o "eu preciso porque o transporte público é ruim" por algo mais lúdico, o automóvel ganha nova dimensão. Deixa de ser o pão nosso de cada dia para virar o almoço relaxado da folga.

    Nada disso dará certo se o modo de comercialização e as opções oferecidas permanecerem distantes dos desejos do público. Carros conectados estão em alta, mas devem servir ao prazer que é encontrar pessoas, fazer a ponte entre o mundo virtual e o contato real.

    É uma visão romântica, mas o automóvel tornou-se o que é justamente pelo prazer que proporcionava antes de ser a solução para cidades com transporte ruim. O carro precisa ser o meio, e não o fim em si.

    eduardo sodré

    Carioca, é especializado no setor automotivo, que cobre desde 1999. Escreve aos domingos, mensalmente.

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