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    Eduardo Sodré

    Salão de Tóquio tenta adivinhar o futuro do automóvel

    29/10/2017 02h00

    O espaço onde o Salão do Automóvel de Tóquio acontece não tem caminhos lógicos. Os pavilhões Leste e Oeste se misturam em indicações que confundem andares, e seus números não seguem uma sequência lógica aos olhos ocidentais. Esses (des)caminhos são o retrato da indústria automotiva atual.

    A cada ano, as fabricantes japonesas de carros e de tecnologia tentam entender as mudanças em curso no mundo da mobilidade e expressam suas opiniões de momento na forma de conceitos. O problema é que a visão do futuro tem mudado expressivamente no biênio que separa um evento do outro.

    Em 2011, o Salão de Tóquio era só conectividade. Para-brisas exibiam mensagens de redes sociais –que já ensaiavam ter a onipresença e a onisciência de agora. O carro era uma bolha, extensão do mundo virtual onde os consumidores viviam.

    Em 2013, a evolução tecnológica deveria servir para aproximar as pessoas. Basta da frieza digital: os carros exibidos no Japão usariam seus recursos para promover encontros. Eram um convite de volta a um mundo real, se é que o conceito de realidade ainda pode ser atribuído ao contato físico entre humanos.

    Dois anos depois, o salão flertava com a mobilidade autônoma em veículos compactos. Eles serviriam para transportar pessoas entre os locais dos Jogos Olímpicos de Tóquio, em 2020.

    A tecnologia antecipava soluções que ajudariam idosos a se locomover com mais independência, uma das grandes preocupações dos japoneses. Essa ideia pouco é vista em 2017. O tema agora é o reencontro com o carro.

    Marcas falam em retomar a relação afetuosa entre o homem e a máquina que o transporta. Os laços seriam refeitos pela tecnologia.

    O carro que reconhece o humor do motorista e interage com ele, em prol da segurança, é uma das propostas da Toyota. Na Honda, o reencontro envolve veículos que evoluem com os donos e aprendem seus gostos por meio de upgrades.

    Esses conceitos encantam apaixonados por carros, mas também assustam por surgirem em um país que inventa robôs para combater a solidão da população.

    Em meio a dúvidas sobre o amanhã, a única certeza da indústria é que, daqui a dois anos, às vésperas da Olimpíada, Tóquio vai tentar adivinhar mais uma vez qual será o futuro do automóvel sobre a terra.

    eduardo sodré

    Carioca, é especializado no setor automotivo, que cobre desde 1999. Escreve aos domingos, mensalmente.

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