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    Eduardo Sodré

    Banalidade de recalls de carros por risco de incêndio assusta

    26/11/2017 02h00

    Divulgação
    Versões nacionais do Fiat Tipo; incêndios em modelos importados encurtaram produção no Brasil
    Versões nacionais do Fiat Tipo; incêndios em modelos importados encurtaram produção no Brasil

    Há 20 anos, a imagem do Fiat Tipo virava fumaça no Brasil. Uma série de incêndios encerrou a trajetória do carro, até então bem visto por clientes e revendedores. A fabricante demorou a anunciar um recall, e só acertou o defeito correto –vazamento do fluido da direção hidráulica, altamente inflamável– em um segundo chamado.

    O caso extremo remete ao que ocorre agora com o Renault Kwid, sucesso imediato de vendas. A montadora foi sucinta ao comunicar o defeito que pode levar às chamas: perfuração do tubo de combustível.

    Um representante da Renault explicou à Folha que o problema pode ser causado pelo posicionamento incorreto do tal tubo. Algumas unidades do carro saíram da fábrica sem uma braçadeira. Essa peça evita o contato da mangueira de combustível com uma polia. Com o tempo, o atrito pode romper o componente.

    Fazer o recall em casos assim é obrigação da montadora, mas a banalidade do problema é o que assusta. Chamados por risco de incêndio tornaram-se comuns.

    BMW, Citroën, Ford, Honda, Jaguar, GM, Mercedes e Peugeot estão entre as marcas que neste ano convocaram proprietários a levar seus carros às oficinas para consertar defeitos que podem originar fogo. As razões são falhas de produção, panes elétricas, problemas de vedação, entre outros.
    As descrições feitas pelas montadoras em seus chamados fazem os problemas parecerem corriqueiros. Não são, há algo grave ocorrendo na indústria automotiva.

    O caso do Kwid chama a atenção por envolver um carro recém-lançado, feito para um público que se aperta para ter um carro zero-quilômetro de R$ 30 mil em sua garagem. Outros recalls envolvem modelos produzidos há mais de 10 anos, o que potencializa o risco de incêndio, devido ao tempo de uso.

    A prevenção é o discurso padronizado das montadoras: melhor chamar milhares de carros mesmo que apenas um pequeno percentual apresente realmente risco. E, claro, há o pavor de um novo Fiat Tipo surgir, destruindo negócios, vidas e reputações.

    O que nenhuma marca quer explicar é o porquê de falhas aparentemente tolas ocorrerem com tanta frequência nestes tempos modernos. A mobilidade está mudando, carros se tornando autônomos, métodos de produção sendo automatizados. Mas qual o sentido de tudo isso se um carro conectado e robotizado pegar fogo na esquina?

    eduardo sodré

    Carioca, é especializado no setor automotivo, que cobre desde 1999. Escreve aos domingos, mensalmente.

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