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    Elena Landau

    Fim de papo no Maraca

    14/07/2014 02h00

    O assunto agora é eleição. A campanha começa para valer. Temo que seja dominada por uma inútil guerra de estatísticas sobre o passado. O desejo de mudança captado pelas pesquisas pede programa de governo no centro das discussões, candidatos dialogando com o eleitor, e não uma campanha dominada pelo marketing.

    O Plano Real foi um divisor de águas. A estabilização permitiu que os governos seguintes consolidassem e ampliassem programas de inclusão social. Os ganhos dos últimos 20 anos já foram incorporados. Talvez mais importante ainda que um desejo genérico de mudar, seja a garantia de que não haverá retrocesso. Ninguém quer perder o que ganhou, por isso a deterioração evidente da economia causa preocupação. Heranças já não me parecem tão relevantes. O futuro, sim.

    Felipão em suas entrevistas após o vexame contra Alemanha minimizou o desastre. Foi apenas um dia atípico do futebol, disse. Com sua fala, confirmou o que o todo mundo já sabia: um técnico teimoso que insistiu em repetir erros evidentes desde o primeiro jogo. A apresentação de feitos passados de nada adiantou.

    Nesse momento, é inevitável lembrar uma frase da presidente Dilma: "Meu governo é padrão Felipão". De fato. Em tudo se assemelha a ele. Diante de todas as evidências de que o modelo econômico não está funcionando, o governo insiste na mesma trajetória e aprofunda os erros. De forma arrogante, a presidente chama os que dela discordam de pessimistas –"eles"–, enquanto "nós" sabemos o que é bom para a sociedade. Seu distanciamento da realidade e do eleitor também lembra a CBF. Isolada em seu castelo, diz que vai tudo muito bem e nada precisa ser revisto.

    A derrota humilhante mexeu com o torcedor que parecia até então conformado com a péssima administração do futebol feita pela CBF. A resposta imediata do governo foi propor mais intervenção no direito de ir e vir dos jogadores, reproduzindo os erros do modelo econômico. Já mudaram de ideia, não há pensamento organizado. Após o desastre aparecem soluções dispersas para salvar nosso futebol. Sete anos não foram suficientes para planejar a participação do Brasil na sua própria Copa.

    Como a derrota da seleção, o fracasso da política econômica é previsível. O governo luta para manter uma inflação reprimida no teto da meta que teima em subir mesmo com a grande defasagem nos preços públicos. O crescimento econômico do ano será pífio, apesar dos incentivos concedidos e dos bilionários desembolsos dos bancos públicos. A produtividade da nossa economia é baixa, a competitividade idem. As contas públicas não têm a menor credibilidade. Qual será a resposta dos candidatos para esses problemas? O país não aguenta outra goleada.

    Elena Landau

    Escreveu até outubro de 2014

    É economista e advogada. É sócia do escritório de advocacia Sergio Bermudes e presidente do Instituto Teotônio Vilela do Rio de Janeiro. Foi diretora de privatização do BNDES e professora da Escola de Direito da FGV do Rio de Janeiro.

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