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    Elena Landau

    Encruzilhada

    04/08/2014 02h00

    Relatório de banco não é propaganda eleitoral. Essencialmente, reproduz fatos para orientar a decisão dos seus investidores; a cada queda da presidente nas pesquisas eleitorais, a Bolsa tem reagido positivamente –e vice-versa. É um fato.

    O Santander acabou cedendo a pressões. Erraram os dois: o governo, por tentar censurar uma instituição privada, e o banco, por mostrar que não tem opinião independente.

    Imprensa, agências de risco, FMI, ata do Copom, e o próprio com a revisão do PIB, apontam para a piora da economia. Infelizmente, para uma administração que busca a reeleição, essa deterioração coincide com o período eleitoral, o que obriga o governo candidato a se posicionar com clareza sobre seus planos e suas ideias.

    Em 2002, a expectativa de uma mudança radical na política econômica gerou enorme instabilidade nos mercados. O então candidato Lula reagiu corretamente com a publicação da "Carta aos Brasileiros".

    Sem abrir mão de um discurso de oposição, antecipou sua visão sobre a economia, firmando compromisso com a continuidade da política de estabilização, destacando o respeito aos contratos e a parceria com setor privado. Dizia: "Será necessária uma lúcida e criteriosa transição (...) a premissa dessa transição será naturalmente o respeito aos contratos e obrigações do país."

    Lula assumiu a presidência e manteve, nos primeiros anos do mandato, os fundamentos da política de estabilização de FH, permitindo uma rápida acomodação nos indicadores econômicos. Naquela época temia-se o rompimento com o passado. Hoje o medo é que o passado se perpetue. A presidente poderia seguir seu exemplo e antecipar suas propostas para economia em caso de reeleição.

    Sua dificuldade é naturalmente maior. A candidata está no comando do país há quatro anos, impondo um modelo de intervencionismo estatal que não funcionou. Não se tratam de erros pontuais, mas de uma estratégia a ser revista.

    Dilma se encontra numa encruzilhada. O que pode dizer a candidata sem afetar o governo da presidente? Uma promessa de mudança implica no reconhecimento de erros. Por outro lado, uma confirmação da política atual deve continuar gerando reações negativas.

    As sabatinas recentes mostram que, por enquanto, ela não pretende rever sua política econômica.

    As pesquisas continuarão a gerar turbulência. Os relatórios não vão mudar. Talvez venham mais metafóricos, para evitar pressões e censuras. Mas vão continuar refletindo a realidade: a insatisfação com a política atual.

    Como dizia a Carta de 2002 "As recentes turbulências do mercado financeiro devem ser compreendidas neste contexto de fragilidade do atual modelo e de clamor popular pela sua superação".

    Matar o mensageiro não vai mudar o cenário.

    Elena Landau

    Escreveu até outubro de 2014

    É economista e advogada. É sócia do escritório de advocacia Sergio Bermudes e presidente do Instituto Teotônio Vilela do Rio de Janeiro. Foi diretora de privatização do BNDES e professora da Escola de Direito da FGV do Rio de Janeiro.

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