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    Elena Landau

    Tergiversando

    15/09/2014 02h00

    Dando minha caminhada de fim de semana fui abordada por um ex-aluno. Me ofereceu um santinho e pediu meu voto. Fui pega de surpresa. De repente me dei conta de que não há campanha nas ruas. Alguns cavaletes, um solitário ciclista carregando uma bandeira, e nada mais. E apenas para as candidaturas a deputado. Não vejo, aqui no Rio, a tradicional mobilização em torno das eleições presidenciais.

    Debate sobre programas de governo e propaganda eleitoral só mesmo nas redes sociais. Pelo que leio por lá tento entender o desinteresse que vejo nas ruas. O baixo nível da campanha é um candidato natural.

    O PT mudou o foco, sem mudar o estilo. Agora contra Marina. Distorções de declarações, mentiras e imputação de frases. Só não entendo tanta surpresa. Sempre foi assim.

    Hoje é Marina quem vai acabar com o pré-sal. Ontem era o PSDB que ia acabar com a Bolsa Família. A tática é a mesma. E parece funcionar; os atacados têm que passar mais tempo negando o que nunca disseram do que apresentando propostas ou criticando o governo-candidato.

    Em meio a mais um escândalo envolvendo a Petrobras, seria cômico, se não fosse trágico, essa perda tempo em torno do que não foi dito. A estratégia ajuda o governo a tirar o foco das denúncias de Paulo Roberto Costa. Serve também para não dar explicações sobre o investimento na refinaria Abreu e Lima em Pernambuco. Mesmo sem qualquer desvio de recursos, a operação em si é um escândalo.

    O projeto foi idealizado por Lula e Chavéz e, apesar de pareceres contrários, foi em frente. Seu custo aumentou nove vezes, superando R$ 40 bilhões. Sabiamente a Venezuela não colocou um tostão no negócio. Desta vez na dá para colocar a culpa em Cerveró. É a maior obra do PAC. A decisão desastrosa envolveu a gerente do PAC, o BNDES e o Ministro da Fazenda.

    Tudo isso me faz lembrar a grande mentira das eleições passadas: o PSDB vai privatizar a Petrobras. Bons tempos em que seu nome era o "X" da questão. A Petrobras foi privatizada de fato, por interesses menores, pela ocupação política, pela troca de favores. Então só resta a esse governo tergiversar mesmo.

    O uso político da empresa pode, e deve, ser corrigido sem privatização. Do jeito que a empresa está desvalorizada nem o Pastor Everaldo ousaria vendê-la. Mudando as regras de governança e aumentando a transparência das decisões já ajudaria muito. Coisa que esse governo não aprecia.

    O medo do profissionalismo e independência das instituições explica a reação da campanha de Dilma à ideia de autonomia do Banco Central. Em mais uma propaganda enganosa, os banqueiros dão risadas enquanto um prato de comida se esvazia. Pura manipulação. O que tira a comida da boca do eleitor é a inflação.

    Elena Landau

    Escreveu até outubro de 2014

    É economista e advogada. É sócia do escritório de advocacia Sergio Bermudes e presidente do Instituto Teotônio Vilela do Rio de Janeiro. Foi diretora de privatização do BNDES e professora da Escola de Direito da FGV do Rio de Janeiro.

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