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    Elena Landau

    Esperança

    27/10/2014 02h00

    Escrevo minha última coluna sem saber o resultado das eleições. Única certeza que tenho é que o país não acaba nem começa hoje.

    A campanha foi frustrante; a obsessão com o passado impediu a discussão do futuro e de formas de superação da crise atual. Mentiras foram usadas de forma sórdida contra Marina Silva e Aécio Neves pela candidata à reeleição, que se esqueceu que era também a presidente da nação.

    Constrangedor também foi ver Dilma, conhecida por seu temperamento forte, ser transformada na personagem da mulher frágil e ultrajada para manipular o eleitor. Ruim para o país e pior ainda para as mulheres. Uma entre tantas farsas de sua campanha.

    A reforma política parece ser finalmente inadiável. Além do financiamento de campanha, tempo de TV, voto facultativo e propaganda enganosa entram na pauta.

    Mas nem tudo foi ruim na campanha. A oposição silenciosa por 12 anos acordou. A onda que se formou não vai passar. Marina, com seus milhões de votos, se consolida no cenário político nacional. Eduardo Jorge trouxe uma nova agenda política que não poderá mais ser ignorada. Especialmente importante o foco na saúde da mulher, numa eleição onde a política de gênero entrou pela porta dos fundos. Os dois juntos vão recuperar a importância da questão ambiental, abandonada por este governo. O preconceito e o desrespeito aos direitos LGBT foram atropelados e eles não poderão mais ser ignorados. O PSOL assume o lugar da esquerda que um dia foi do PT.

    O monopólio da virtude, em que o PT tanto se agarra, está com os dias contados. O Partido dos Trabalhadores sai dessa campanha como defensor ferrenho do patrimonialismo e o representante mais fiel do populismo. Com fins eleitorais, explorou de forma perversa as desigualdades sociais e regionais do país. O terrorismo foi sua principal arma, tratando os programas sociais como projeto seu, visando apenas a manutenção no poder, e não um direito da sociedade.

    O novo governo receberá uma herança maldita. Terá que lidar com a inflação, os juros altos, a destruição do setor elétrico, as contas públicas em desarranjo, a estagnação, o desemprego, a fragilidade institucional, as CPIs e as investigações em diversas esferas, com destaque para a apuração das graves denúncias envolvendo a Petrobras.

    Se Dilma foi reeleita, temo que, orgulhosa de sua política, mesmo estando à beira do precipício, dê um passo a frente. Mas resta a esperança que as críticas que uniram metade dos eleitores sejam ouvidas.

    Se os protestos de 2013 foram ignorados, que 2014 seja levado a sério.

    Se Aécio ganhou, teremos uma chance real de corrigir os rumos da economia, dar um salto de qualidade nas políticas públicas, fortalecer as instituições e reconciliar o país.

    Elena Landau

    Escreveu até outubro de 2014

    É economista e advogada. É sócia do escritório de advocacia Sergio Bermudes e presidente do Instituto Teotônio Vilela do Rio de Janeiro. Foi diretora de privatização do BNDES e professora da Escola de Direito da FGV do Rio de Janeiro.

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