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    Eliane Cantanhêde

    Silêncio estridente

    19/01/2014 03h00

    BRASÍLIA - Na linguagem diplomática, o silêncio tem a estridência de uma crítica ácida, aguda.

    Dilma capitaneou a reação aos EUA quando denunciou os abusos da espionagem americana na abertura da assembleia geral da ONU e uniu-se à alemã Angela Merkel para exigir regras internacionais.

    Nem Dilma, nem o Planalto, nem o chanceler Figueiredo, nem o Itamaraty, porém, deram um pio na sexta-feira sobre o longo falatório do presidente Barack Obama prometendo limitar a espionagem de governos amigos e aliados. Motivo, aliás, para o cancelamento da visita oficial de Dilma a Washington -um tapa sem luva de pelica.

    A justificativa do governo para o silêncio é intencionalmente banal: como o discurso foi muito detalhado, é preciso tempo para dar-lhe a devida atenção e compreendê-lo, mas Dilma anda muito ocupada. Blablablá.

    O fato é que o Brasil considera altamente positivo que Obama tenha sido compelido a mobilizar seu governo para traçar um diagnóstico e se informar dos abusos e que tenha se disposto a se manifestar para o mundo. Mas isso não é tudo.

    Faltou algo que Dilma vem exigindo desde que Snowden mostrou que a espionagem abrangia não apenas cidadãos e empresas, mas a própria Presidência da República: um pedido de desculpas.

    Ao contrário, Obama foi arrogante ao defender a importância da inteligência e esnobar: "Não vamos pedir desculpas porque nossos serviços são mais eficientes".

    Na visão brasileira, ele também foi dúbio ao dizer que não vai mais espionar aliados, mas com uma ressalva: a menos que haja forte razão de segurança nacional. É subjetivo.

    A NSA fica onde e como está, seus espiões continuam a postos e a segurança nacional americana, como se sabe, abrange exatamente tudo.

    Ok, Obama vai "pegar o telefone e ligar para eles (os amigos)". E a espionagem vai continuar correndo solta. O mundo e os EUA são assim.

    eliane cantanhêde

    Escreveu até novembro de 2014

    Jornalista, foi colunista da Página 2 da versão impressa da Folha. É também comentarista do telejornal "GloboNews em Pauta" e da Rádio Metrópole da Bahia.

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