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    Eliane Cantanhêde

    Luto

    11/02/2014 03h30

    BRASÍLIA - A semana passada pegou fogo e esta abre com a morte cerebral do colega Santiago Andrade, cinegrafista de TV, num episódio cheio de significados e alertas.

    Jogar um rojão em pessoas, sejam jornalistas, transeuntes ou policiais, contrapõe o legítimo e saudável direito de manifestação à ilegal e doentia ação de vândalos.

    Os que saem de casa com um artefato desses e os que o jogam sobre uma multidão não podem se dizer inocentes. Se não premeditaram, sabiam perfeitamente que poderiam matar. É como quem toma um porre, pega um carro e causa uma tragédia.

    O outro significado, ou alerta, é que o rojão que explodiu na cabeça de Santiago (as imagens são chocantes) caiu justamente num cinegrafista que estava ali trabalhando. Escancara, assim, o caráter antidemocrático dos "black blocs", que atingiram simbólica e objetivamente o dever da mídia de informar e o direito de todos à informação.

    Por último, a morte cerebral de Santiago não é um episódio aleatório, isolado. Ao contrário, ocorre num momento de grande agitação, incômodo, dúvidas e apreensões em diferentes esferas de poder e, principalmente, na sociedade.

    Ele foi mortalmente atingido a meses da Copa, ainda sob o horror do complexo de Pedrinhas e dias depois de dois crimes bárbaros. Um "justiceiro" matou um rapaz de 20 anos com um tiro no rosto, a queima roupa e à luz do dia. E uma turba amarrou um menor infrator a um poste, nu, exposto à execração pública.

    A sociedade está, de fato, exausta com incontáveis erros e, particularmente, com a violência sem controle. Mas, se cidadãos e cidadãs se tornam mais cruéis e mais desafiadores do que os piores bandidos, onde nós vamos parar?

    Que se criem e se formem menos bandidos e justiceiros –hoje embolados num único ente– e mais Yvonnes Bezerra de Mello, que embalou o menino do poste e mantém a crença na humanidade. Não é sonhar tão alto.

    eliane cantanhêde

    Escreveu até novembro de 2014

    Jornalista, foi colunista da Página 2 da versão impressa da Folha. É também comentarista do telejornal "GloboNews em Pauta" e da Rádio Metrópole da Bahia.

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