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    Eliane Cantanhêde

    Ao bolso e às urnas

    01/06/2014 02h01

    BRASÍLIA - Quem não ouviu deveria ouvir a entrevista do ministro da Fazenda, Guido Mantega, explicando e tentando justificar o pibinho de 0,2% no primeiro trimestre.

    Num resumo de leigo(a) para leigo: ele ensinou que o crescimento do país foi tão pequeno porque o consumo das famílias foi baixo, por causa da inflação; o nível do crédito caiu, por causa dos juros; e tudo reflete a lenta recuperação dos EUA.

    Como sempre, Mantega usou de um certo ar humilde e sincero, apesar de suas previsões nem sempre se confirmarem ao longo desses anos, inclusive, ou sobretudo, as de crescimento. Ele sempre criou a expectativa de índices maiores, para no fim ter de anunciar outros bem modestos.

    Aliás, o ministro continua sendo bastante otimista, em contraste com essa gente chata, elitista, mal-humorada e oposicionista que insiste em achar que alguma coisa não vai bem na economia. Segundo ele, vem aí a Copa, e o crescimento do segundo trimestre vai ser uma beleza. Tomara! Como naquela velha música, "daqui pra frente, tudo vai ser diferente".

    Só tem um problema: o próprio Mantega reconheceu que a Copa vai aquecer comércio e serviços, mas, com os feriados, a indústria poderá sofrer. Justamente a indústria?

    Deixando a economia para os economistas, vamos para a política. Enquanto Aécio Neves e Eduardo Campos falarem de PIB, juros, inflação e balança comercial, a grande maioria do eleitorado não vai dar bola. O foco está nas bandeiras muito mais apetitosas de Dilma Rousseff: Bolsa Família, Mais Médicos, Pronatec e Minha Casa, Minha Vida. Mas Mantega deu um prato feito para a oposição.

    Ao traduzir do economês que as famílias estão comprando menos, o crédito minguou e nem a Copa sacode a indústria, ele foi camarada com os adversários. Essa linguagem fala ao bolso e às urnas. O eleitor entende.

    Só faltou o ministro admitir como se chegou até inflação e juros tão altos, com investimento e crescimento tão baixos. Não foi só fatalidade...

    eliane cantanhêde

    Escreveu até novembro de 2014

    Jornalista, foi colunista da Página 2 da versão impressa da Folha. É também comentarista do telejornal "GloboNews em Pauta" e da Rádio Metrópole da Bahia.

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