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    Eliane Cantanhêde

    É bom, mas é ruim

    19/09/2014 02h00

    BRASÍLIA - Na contramão das estatais e dos órgãos de governo, o IBGE resistiu ao aparelhamento e às ingerências indevidas e continua dando valiosas contribuições para a compreensão do país e para detectar o ritmo dos avanços nas mais diferentes áreas. Doa a quem doer.

    Em plena campanha eleitoral, ao largo de palanques partidários e troca de ataques, o IBGE deu duas das piores notícias não só para a presidente Dilma, mas principalmente para a candidata Dilma. O Brasil entrou em recessão técnica, com dois trimestres consecutivos de crescimento negativo. E, depois de anos de queda, a Pnad de 2013 mostra que a desigualdade social parou de cair.

    São dois golpes para Dilma. Um, o pibinho devagar quase parando, ratifica a crítica generalizada de que a política econômica dos últimos quatro anos deu errado. Outro, a desigualdade estacionada, enfraquece muito o discurso petista. Lula deve estar arrancando os cabelos.

    O IBGE, porém, é um copo meio cheio, meio vazio. Se contém motivos de ataque contra Dilma, inclui também argumentos de defesa.

    Exemplos. A oposição pode dizer que o desemprego subiu (e deve subir mais em 2014). Mas Dilma pode alegar que, apesar disso, a renda aumentou. A oposição pode dizer que há 13 milhões de analfabetos no país. Mas Dilma pode rebater dizendo que, apesar disso, eles continuam diminuindo. A oposição pode dizer que 43% das residências até hoje não têm esgoto, outra grande tragédia. Mas Dilma pode alegar que, apesar disso, houve uma redução acentuada no total. Ou, ao contrário: Dilma se elogiar, a oposição retrucar.

    Ou seja, a Pnad contém dados para todos os gostos e ângulos. O que importa é que o IBGE resistiu à pressão do Planalto, via senadores amigões, e continua cumprindo seu papel de pesquisar, divulgar, analisar e, assim, contribuir para o entendimento e o planejamento do país, seja quem for o (a) presidente. O IBGE é nosso! Como a Petrobras um dia foi.

    eliane cantanhêde

    Escreveu até novembro de 2014

    Jornalista, foi colunista da Página 2 da versão impressa da Folha. É também comentarista do telejornal "GloboNews em Pauta" e da Rádio Metrópole da Bahia.

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