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    Eliane Cantanhêde

    Aécio tem trunfos para 2º turno, mas cara a cara com Dilma não será fácil

    05/10/2014 20h56

    Numa eleição já tão surpreendente desde o início, só nos faltava essa: uma guinada espetacular na véspera, literalmente, da votação e da abertura das urnas. Foi o que ocorreu. O tucano Aécio Neves, considerado fora do jogo depois da morte de Eduardo Campos, ressurgiu das cinzas e garantiu na última hora a lógica da política brasileira desde 1994, com a polarização PT-PSDB.

    Entram aí as duas grandes dúvidas sobre o segundo turno que perpassaram todo o primeiro. Desde 2002, o PT ganhou do PSDB e quem chegou na liderança ganhou no final em todas as eleições de segundo turno. Está escrito nas estrelas?

    O PT gostaria que sim, mas esta eleição de 2014 quebrou parâmetros, queimou a língua de muita gente e não para de produzir surpresas e novidades. Logo, não dá para dizer que "tudo será como dantes no quartel de Abrantes".

    Desta vez, Dilma vence o primeiro turno num patamar bem inferior ao que Lula teve em 2002 e 2006 e ela própria atingiu em 2010. Ou seja, ela entra mais fraca.

    As principais diferenças de 2014 em relação às eleições anteriores: a alta rejeição ao PT e os erros do governo Dilma Rousseff na economia. Esses dois fatores, somados, desabaram num genérico "antipetismo" que empurrou a rejeição ao PT e a Dilma a índices quase mirabolantes no principal Estado do país, São Paulo, berço tanto do PT quanto do PSDB e centro empresarial e financeiro do país. Só na capital, quase metade dos paulistanos torcem a cara ao partido.

    Isso será um grande trunfo para Aécio e os tucanos no segundo turno, tanto para negociar com Marina Silva quanto para atrair os votos antipetistas. Isso, porém, não significa que o ambiente seja confortável para Aécio e que a disputa contra o PT, cara a cara, será fácil.

    Dilma chegou numericamente na frente, Lula continua sendo o maior cabo eleitoral do país e o PT confirma também nesta eleição que é um partido de chegada. Ou seja: um partido que tem garra e militância e cresce na reta final.

    Foi assim, por exemplo, na Bahia, no Rio Grande do Sul e no Ceará, sem contar uma vitória que tem um gosto muito especial para os petistas: a vitória de Fernando Pimentel sobre o tucano Pimenta da Veiga justamente em Minas Gerais, que Aécio Neves governou por duas vezes e onde colheu mais de 90% de aprovação.

    Mesmo em São Paulo, o PT surpreendeu na reta final. Não a ponto de confirmar a "falência de material" que levaria à derrota dos tucanos, pois o PSDB continua voando muito bem, com a reeleição do governador Geraldo Alckmin em primeiro turno. Mas o suficiente para evitar um resultado que se insinuava vexaminoso.

    Depois de patinar em menos de 10% ao longo de todos os meses da campanha, o candidato do PT ao governo, Alexandre Padilha, cresceu literalmente nos últimos dias e encostou no adversário Paulo Skaf, do PMDB, apesar de o tucano José Serra ter destronado o petista Eduardo Suplicy do Senado, depois de suas mais de duas décadas como senador.

    A eleição, portanto, continua quente e imprevisível mesmo depois do fim do primeiro turno e muita água e muita troca de torpedos ainda vão rolar debaixo da ponte até o dia 26, quando se realiza o segundo turno.

    Com a Petrobras no centro do debate cara a cara e as prisões do mensalão do PT rondando os palanques, pode apostar: o PT vai sacar algum coelho gordo e uma maldade cortante contra Aécio. Com a morte de Eduardo Campos e a disparada de Marina Silva, o PT se concentrou na "sonhática" e arquivou seus coelhos, cobras e lagartos contra o tucano. Mas eles estão soltos por aí.

    Se não tiver nenhum deles concretamente, não custará muito sacar da cartola algo na linha do "o PSDB vai privatizar a Petrobras". E isso será a dias do segundo turno, sem dar tempo para a reação e o contra-ataque.

    Aliás, um registro: Aécio só teve tempo para voltar do inferno ao paraíso porque a queda do Cessna foi em 13 de agosto, bem antes das urnas. Se tivesse sido um mês depois, sei não...

    eliane cantanhêde

    Escreveu até novembro de 2014

    Jornalista, foi colunista da Página 2 da versão impressa da Folha. É também comentarista do telejornal "GloboNews em Pauta" e da Rádio Metrópole da Bahia.

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