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    Elio Gaspari

    Os socialistas na Oscar Freire

    14/09/2014 02h00

    Luis Fernando Verissimo criou grandes personagens como o Analista de Bagé e a Velhinha de Taubaté, aquela que acreditava em tudo o que o governo dizia. A velhinha morreu e o analista sumiu, mas resta Dora Avante, fundadora do movimento "Socialites Socialistas". Se Dorinha tivesse aparecido na reunião de Walter Feldman e Bazileu Margarido, o coordenador-geral e o tesoureiro da campanha de Marina Silva, com a Associação de Lojistas dos Jardins (SP), teria visto que pode estar próximo o dia em que a humanidade chegará ao coletivismo de grife. As repórteres Marina Dias e Lígia Mesquita estiveram lá e contaram o que viram.

    Marina, como se sabe, disputa a Presidência da República pelo Partido Socialista, e na Associação de Lojistas dos Jardins estão pessoas que trabalham com a vanguarda do socialismo de consumo. Ela inclui as vitrines da gloriosa rua Oscar Freire, sacrário das grandes etiquetas. A presidente da entidade vestia uma camiseta bordada com a bandeira brasileira e abriu a sessão pedindo a todos que cantassem o hino nacional. Feldman contou o que seria a sua "democracia de alta intensidade". Caíra mal na plateia a proposta de criação de "conselhos de participação da sociedade". Ele explicou que a ideia nada tem a ver com os "conselhos populares" de Dilma Rousseff:

    "Vejo que vocês estão nervosos com isso. Temos que tomar cuidado para não remeter aos sovietes."

    Uma das senhoras foi ao ponto: "O que me assusta em ter uma participação popular ativa é que a maioria às vezes é burra". Noves fora o fato de que se busca exatamente a formação de uma maioria para levar Marina ao Planalto, restou outra questão. Se o Partido Socialista é socialista, uma senhora tinha motivo para expor sua preocupação: "Isso é comunismo". Feldman explicou que Marina está apenas abrigada no partido e que o socialismo do PSB é um compromisso programático de 1947, ano de sua fundação.

    Dora Avante, a Dorinha, acredita que surgiu o embrião para a vitória do seu movimento na busca da forma mais avançada de socialismo, o czarismo.

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    Eike em Londres

    Eike Batista negocia em Londres a venda da última joia de sua coroa, a mina de ouro que tem na Colômbia. Pode valer US$ 800 milhões e já se habilitaram a esse ervanário os bancos Itaú e Bradesco, além do poderoso grupo Mubadala, de Abu Dhabi.

    Enquanto isso, a Caixa Econômica continua à cata das garantias do empréstimo de R$ 4 bilhões do Fundo da Marinha Mercante que fez ao estaleiro OSX. Elas eram compostas por ações da empresa (que viraram pó), pelo empreendimento (um terreno no porto do Açu), pelo aval do empresário e uma apresentação em PowerPoint.

    Sobrou o PowerPoint.

    Caso esquecido

    No que se refere à campanha eleitoral, a doutora Dilma explica tudo, menos o que aconteceu com sua promessa e de Fernando Haddad, então ministro da Educação, de realizar dois exames do Enem a cada ano.

    A promessa foi renegada pelo comissário Aloizio Mercadante quando passou pelo ministério e pelo atual presidente do Inep, Chico Soares.

    Esse exame substitui o vestibular, no qual a garotada é obrigada a jogar um ano de suas vidas num só exame. (Nos Estados Unidos, numa prova semelhante, as oportunidades são sete a cada ano.)

    O comissariado gosta de cobrar de Marina o que ela disse e não diz mais. Bem que poderia cobrar de si o que prometeu durante o governo, reiterou e não faz.

    Lula na posse

    Pelo andar da carruagem, no dia 1º de janeiro Lula estará na posse da nova presidente do Brasil, dizendo-se satisfeito com a posse da amiga.

    Olho de Genebra

    O Ministério Público brasileiro está de palavra passada com seu similar suíço na investigação das trilhas financeiras de Paulo Roberto Costa e de seu parceiro Alberto Youssef.

    Cuidam para que essa investigação transcorra sem dar oportunidade às travas colocadas no Brasil para atrasar em anos o trabalho que desvendou uma parte do esquema tucano com o cartel da Alstom.

    Roosevelts

    Está chegando às lojas americanas mais uma feitiçaria do grande diretor de documentários Ken Burns. É "Os Roosevelts".

    São sete episódios cruzando as vidas de três personagens que marcaram como ninguém os Estados Unidos do século 20. O primeiro, Theodore, governou de 1901 a 1909. O segundo, Franklin, de 1933 a 1945. A terceira, Eleanor, era sobrinha de um e casou-se com o outro.

    Burns já fez uma série sobre a Guerra Civil Americana que revolucionou a arte dos documentários históricos. Aristocratas abatidos por dramas pessoais, os Roosevelts deram a volta por cima, bateram de frente com a plutocracia americana e reformaram o país. Teddy perdeu a mãe e a mulher no mesmo dia, na mesma casa. Por pouco não morreu numa expedição à Amazônia. Franklin ficou paralítico aos 39 anos, pegou um país quebrado em 1933, reformou sua economia, venceu a Segunda Guerra e transformou-o numa potência que jamais voltou a ser.

    Se Deus é brasileiro, um dia "Os Roosevelts" vai ao ar em Pindorama. Alguns capítulos da série da Guerra Civil estão no YouTube, em português.

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    DEIXEM O PAULINHO FALAR EM PAZ

    A colaboração do petrocomissário Paulo Roberto Costa com a Viúva tornou-se o pesadelo de maganos e grandes empresas metidas em seus negócios e nos do doleiro Alberto Youssef.

    Mais que depressa, parlamentares querem que ele vá depor na CPI Mista da Petrobras. Logo numa CPI, instituição transformada em lavanderia de escândalos. O que se busca não é seu depoimento, pois este está sendo colhido sigilosamente pelo Ministério Público, com vídeo e áudio. Este serviço só terminará quando os procuradores concluírem as oitivas. Não há por que fatiá-lo. O que se quer é tumultuar as investigações, e nisso entram toda sorte de interesses.

    Para ilustrar a manobra, vai aqui uma fábula:

    Às oito da manhã de 24 de agosto de 1954, um advogado chegou a uma pensão da rua do Catete. Fora chamado por um cliente que matara a mulher a facadas e saíra no corredor, ensanguentado, empunhando a arma do crime. Pouco havia a fazer, mas um rádio anunciou: "O presidente Getúlio Vargas suicidou-se com um tiro no coração".

    O advogado vira-se para o delegado e diz: "Doutor, esses dois acontecimentos estão relacionados, peço-lhe que leve em conta esse fato na sua investigação".

    Juntando-se as duas coisas poderiam aparecer novas versões, novas testemunhas e novos tumultos.

    Nos últimos anos, o Congresso Nacional já montou duas CPIs para cuidar da Petrobras. Deram em nada, isso para não falar da teatral e inútil CPI do bicheiro Carlinhos Cachoeira.

    elio gaspari

    Nascido na Itália, veio ainda criança para o Brasil, onde fez sua carreira jornalística. Recebeu o prêmio de melhor ensaio da ABL em 2003 por 'As Ilusões Armadas'. Escreve às quartas-feiras e domingos.

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