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    Elio Gaspari

    A cabeça do criminoso de colarinho branco

    25/12/2016 02h00

    Saiu nos Estados Unidos o livro "Why They Do It" ("Por que eles fazem isso – A cabeça do criminoso de colarinho branco"). Assim como o "Too Big to Jail" ("Muito grande para ser mandado para a cadeia") é um daqueles livros que, lidos por empresários podem ajudá-los a economizar fortunas e até mesmo a preservar a própria liberdade.

    O autor de "Why They Do It" é o professor Eugene Soltes, da Harvard Business School. Durante sete anos, ele entrevistou e correspondeu-se com cerca de 50 empresários condenados por fraudes, alguns deles presos. Ouviu o inesquecível Bernard Madoff, que explodiu em 2008 e hoje rala uma pena de 150 anos pela sua pirâmide que custou pelo menos US$ 20 bilhões a investidores.

    Soltes foi fundo. Ele conta a história do combate a esse tipo de crime desde 1939, quando o professor Edwin Sutherland cunhou a expressão "crime de colarinho branco". Sua conclusão é de que que todas as teorias vigentes (cobiça, arrogância ou custo-benefício) não ficam de pé. O criminoso de colarinho branco faz o que faz porque acha que dá.

    Às vezes o sujeito acha que dá e não percebe que com um simples telefonema pode arruinar sua vida. Um professor tinha uma empresa de biotecnologia e criou uma droga que curava um tipo de câncer, mas a agência reguladora não terminara as pesquisas para liberá-la com essa especificação. Quando ele farejou que a licença não viria, telefonou para a filha e disse-lhe que deveria vender as ações da empresa que lhe dera. Os papéis valeram US$ 2,5 milhões. Dias depois a licença foi negada, e as ações perderam dois terços do valor. O professor ficou sem a empresa e viu-se condenado a sete anos de prisão. Estava na cadeia quando a agência reconheceu o valor da sua droga. A firma que pertencera ao professor foi comprada por US 6,5 bilhões.

    Segundo Madoff, há dois tipos de delinquentes, o que pretende cometer o crime desde a primeira hora e aquele que dá o primeiro passo pensando que conseguirá sair, mas vai em frente. Ele se coloca no segundo, mas essa pode ser mais uma de suas mentiras.

    elio gaspari

    Nascido na Itália, veio ainda criança para o Brasil, onde fez sua carreira jornalística. Recebeu o prêmio de melhor ensaio da ABL em 2003 por 'As Ilusões Armadas'. Escreve às quartas-feiras e domingos.

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